Prof.
Dr.
Antonio Atílio Laudanna
Professor Titular de Gastroenterologia da
Faculdade de Medicina da USP |
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Em
primeiro lugar, vamos nos apresentar.
Quem somos, como e por que existimos?
Existimos como Fundação Médico-Cultural
de Gastroenterologia e Nutrição de São
Paulo.
Por quê?
Porque o conteúdo dos temas a que nos propomos
tratar, declarado na denominação que nos
dá identidade - FUGESP - não apenas aponta
mas também denuncia as necessidades médicas,
didáticas, culturais, sociais e de apoio ao ensino
e à cultura médica de que tanto vem carecendo
o nosso País.
Nossa nação é nossa terra e nosso
povo.
Não há como negar que as informações
médicas prestadas ao público são,
afastadas notáveis exceções, mais
assustadoras do que informativas, mais sensacionalistas
do que verdadeiras, mais contundentes do que protetoras.
Portanto visamos a oferecer, nesse sentido, apoio científico
a todos os meios de comunicação, bem como
transmitir conhecimentos a toda a sociedade, através
da palavra escrita, falada, coloquial, eletrônica
ou outra. Importante é que se o faça através
da "boa mídia", com o cuidado de não fazer
"média".
Informar bem os assuntos da ciência médica
e da saúde pública, nutrição
e higiene é nosso dever de cidadania, sobretudo
se levarmos em conta que a FUGESP está totalmente
estruturada na vida médica, na Gastroenterologia
e nos estudos de Nutrição, possuindo um
caráter fortemente cultural. Claro está,
nesta apresentação preliminar, que nossos
objetivos, exigentes e bem embasados, demandam o apoio
de grupos de excelência, senhores da matéria
e da cultura médica.
Preocupa-nos, também, o ensino superior, particularmente
o ensino, médico. O médico, aliás,
é a base do edifício cujos contornos atrás
delineamos.
E tem-se descuidado cada vez mais do médico.
Exatamente daquele que cuida de nós, de nossos
filhos e pais, daquele que ouve nossos queixumes mais
íntimos, que nos trata e tantas vezes nos salva,
morre e revive conosco.
Este não pode ser descuidado.
Como desconhecer que o médico de amanhã
é o estudante de hoje, ainda inflamado pelo ideal
da medicina, ideal, com o qual haverá de lutar.
Sim, vai lutar com o seu próprio ideal, e não
apenas pelo seu ideal, por força dos combates
que trava com as doenças, com as pestes ou, isoladamente,
junto ao leito do paciente que vive ou morre.
Desamparar o médico é como desampararmos
nós mesmos e a própria sociedade.
Supor que as máquinas modernas, sem dúvida
magníficas, do ultrassom à tomografia, ressonância magnética e ao recente pet (positrum emission tomography), possam substituir o médico é um ledo engano.
Tais utilíssimas modernidades, conquistas da
própria medicina, poderiam ser comparadas, de
certa forma, a moderníssimos automóveis,
com uma distinção: só o médico
pode dirigir. E note-se, tratar de pessoas nunca prescindirá
da relação médico-paciente, da
atuação direta do médico, quer
no campo clínico, quer no setor cirúrgico.
Negligenciando-se perigosamente esses aspectos, tem-se
depreciado o médico, talvez supondo-se que se
possa considerá-lo mão-de-obra barata
quando, ao longo de tantos anos de formação
e toda uma vida de renovada devoção, ele
acorda, atende e dormita em vigílias, cura, vive
e morre com, e pelos seus semelhantes. Todo o médico
morre um pouco com cada doente que perde.
Não há como negar que os médicos
representam muito estimável classe social, dados
os propósitos a que destinam a própria
vida.
Vivendo no meio da sociedade com tais deveres, avulta-se
o médico, ao lado dos professores, sobretudo
os professores das primeiras letras, como um cidadão
"formador do bom povo" - já que saúde
é uma condição basilar - e portanto
participante ativo na formação da cidadania.
Sumariando esta apresentação, poderíamos
dizer que visamos o "papel do médico na sociedade"
de tal forma que ele seja cada vez mais bem formado
e não seja aviltado. Que seja ouvido como porta-voz
da ciência, ao invés de "traduzido" à
conveniência de terceiros. Apoiado no berço
(escolas em geral e escolas médicas) e atuante
na ação social que lhe diz respeito, que
o acompanhe a cultura médica e a cultura geral,
através das quais falará aos cidadãos,
estudantes e principalmente aos estudantes
de medicina.
É
bem por isso que tanto enfatizamos o apoio ao ensino
público e particular.
O que dizer da Nutrição, como ciência
e aplicação médico-social? E da
Desnutrição, mazela grassante em nossa
gente, nesta nação que é dos maiores
potenciais a garantir a nutrição do mundo!
Não nos esqueçamos que a Medicina Brasileira,
com seu rico passado médico-cultural, está
mais do que preparada para encarar o desafio da ciência
moderna que, note-se, transcende em muito ao mero desafio
tecnológico.
É
o que temos a dizer nestas palavras prévias,
convictos, e não presumidos, de que poderemos
acrescentar ao ensino, às escolas médicas,
à saúde individual, coletiva e à
cultura deste País.
Antonio
A. Laudanna |