RELATIVO AO PROGRAMA APRESENTADO EM 25/09/2006 NA TV CULTURA
(Doenças do fígado)
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Prof. Roberto Cleva |
Prof. AA Laudanna |
Dra. Esther Laudanna |
O fígado e sua fama
O fígado de fato, por seu tamanho e por suas múltiplas funções é um órgão muito “famoso”. Os povos antigos faziam até previsões olhando um corte de fígado. Por causa dessa fama muitas doenças não causadas pelo fígado são a ele atribuídas. De fato é um órgão vital, a maior glândula do corpo, pesando no adulto ao redor de 1,8 kg. Tem tantas funções, disse o Prof. Laudanna, que foi comparado ao laboratório central de um grande hospital. Participa de todo metabolismo, quer dos alimentos tipo acúcares, gorduras e proteínas, quer de substâncias internas, que ele modifica e excreta pela bile. Na bile encontra-se a chamada bilirrubina que se forma no fígado e é proveniente das células do sangue. A cor da bile é dada, em grande parte, por essa substância chamada bilirrubina. Assim sendo, quando o indivíduo está doente de uma doença do fígado, principalmente aguda, ele pode apresentar sinais que apontam que a doença é do fígado, sinais esses que o médico sabe reconhecer. A icterícia, por exemplo, é um sinal que se representa pela cor amarelada da pele, da conjuntiva dos olhos e mesmo das mucosas, como a mucosa da boca. Nesses casos é comum que a urina aponte a presença de excesso de bilirrubina ou pigmento biliar: a urina se torna escura e “mancha a roupa”. O fígado é afetado por vírus que causam as hepatites, estando entre os principais os vírus A, B e C. É importante para a população saber que existem vacinas altamente eficientes contras os vírus A e B, ainda não havendo vacinação contra o vírus C.
Vírus e álcool são as causas mais comuns da cirrose hepática. A cirrose por sua vez, pode dar origem a sintomas e sinais tipo “barriga d’água”, denominada de ascite pelos médicos. Como o fígado também sintetiza substâncias, como a albumina, que é uma proteína importante do sangue, a insuficiência hepática pode se representar também por inchaço dos membros inferiores, edema esse, como se diz na linguagem médica, que deve ser diferenciado das outras causas de edemas, como as causas cardíacas e renais, por exemplo. O fígado tem grande circulação venosa, que vem dos intestinos. Quando ele está bloqueado por doença, como a cirrose que endurece e entrava a circulação no fígado, o sangue busca outras vias, vindo a formar varizes no esôfago podendo disso resultar vômitos de sangue vivo ou perda de sangue escuro pelas fezes. Tumores também podem atingir o fígado, quer iniciados no próprio fígado, quer porque alcancem o órgão como metástase, mesmo que o tumor primitivo esteja a distância dele. O fígado excreta medicamentos, transforma hormônios e regula o metabolismo do colesterol e dos sais biliares.
O fígado pode ser atingido por parasitas, assunto esse que tem imensa importância nacional, disse o Prof. Laudanna. O Brasil e todo o seu amplo nordeste é bastante atingido pelo parasita esquistossoma, cujos ovos se localizam no fígado e causam uma doença semelhante à cirrose, com “barriga d’água”, vômitos de sangue e evacuações com sangue. O esquistossoma faz ciclo entre o homem e o caramujo que habita certas regiões do globo, inclusive o nosso nordeste. A contaminação se dá nos banhos em “lagoas de coceira”, representada por açudes, lagoas e rios das regiões afetadas. Felizmente, pela eficiência atual do tratamento e de seu diagnóstico, a prevalência dessa grave parasitose vem caindo no Brasil, embora ainda se constitua em moléstia de grande importância em saúde pública.
E fígado na criança?
A criança pode sofrer do fígado já ao nascer (doenças congênitas). Por outro lado podem ser contaminadas ao nascer, como pelo vírus B, e inclusive pelo vírus da AIDS, comentou a Dra. Esther Laudanna. Daí, prosseguiu, a importância do pré-natal, que controla a saúde da mãe e do feto, eventuais presença de vírus, cuida da vacinação e orienta as precauções durante o parto. Os postos de saúde estão aptos e eficientes no que diz respeito às vacinações contra os vírus A e B. Certos tipos de trabalho, como o dos médicos e dos enfermeiros, do pessoal da área de saúde em geral, a vacinação deve ser preferencial, comentou o Prof. Laudanna. Na infância é relativamente comum a hepatite A, que felizmente tem decaído em razão das medidas de higiene e melhor saneamento básico, disse a Dra. Esther. A hepatite A geralmente tem evolução benigna, não se cronifica, raramente assume a forma fulminante e fatal, o que, entretanto, pode suceder. As crianças devem ser vacinadas já ao nascer, seguindo os esquemas já estabelecidos, inclusive quanto a dose de reforço. O transplante hepático é necessário também na criança, como se faz nos hospitais universitários de excelência, como o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. A propósito de dietas no tratamento das hepatites, disse a Dra. Esther que naturalmente a pessoa com hepatite está enjoada e se afasta da alimentação livre e das gorduras. Desse modo, à medida que o corpo permite ser alimentado, sem restrições, deve ser atendido e o paciente permanecer bem alimentado, o que facilitará a cura da hepatite.
Sintomas inespecíficos, cirroses e transplantes
Muitos sintomas tipo mau hálito (halitose), dores de cabeça, indigestões, refluxos, são atribuídos ao fígado e, não necessariamente, dependem dele, comentou o Prof. Roberto Cleva. A halitose geralmente decorre de problemas das vias aéreas do tipo das amigdalites, faringites, rinites, não se devendo esquecer, naturalmente, de boca, gengiva e dentes. Muitas vezes a doença é gástrica e não hepática. A cirrose hepática é doença incurável, e progressiva, sendo que, em dado momento de sua evolução, passa a ter indicação de transplante hepático. Os transplantes comentaram o Prof. Cleva e a Dra. Esther Laudanna, oferecem dificuldades quer técnicas e de uma cirurgia de grande porte, quer relativas à falta de fígado doador. O corpo que recebe o fígado tem tendência a rejeitá-lo, sendo a rejeição um dos problemas do transplante, dificuldade essa cada vez mais superada pelos medicamentos que bloqueiam a rejeição. Os transplantes bem sucedidos, durante o primeiro ano de operação, são da ordem de 80% comentou o Dr. Cleva. Situações especiais contra indicam o transplante, como o alcoólatra não recuperável, o câncer disseminado e outras doenças que impeçam a cirurgia da magnitude dos transplantes. A Dra. Esther fez referência ainda ao transplante inter-vivos, no qual uma pessoa doa um segmento do seu fígado para o doente, tipo de transplante esse aliás, em que o Brasil foi pioneiro.
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