FUGESP Jornal de Gastroenterologia - ESTÔMAGO |
ESTÔMAGO III - HELICOBACTER PYLORI INTRODUÇÃO O helicobacter pylori é uma bactéria Gram(-), microaerófila, flagelada, que se cora pela hematoxilina-eosina e mais nitidamente pelo Giemsa e por métodos que utilizam sais de prata, como a coloração de Warthin-Starry. Foi descrito por Warren, J.R. e Marshall, B. (1983), embora bactérias tenham sido apontadas no estômago na virada do século.SIGNIFICADO GASTROENTEROLÓGICO O conceito atual é que o Helicobacter pylori ocasiona infecção, sendo apontado como causa de gastrites, úlceras, linfomas e até carcinomas. Está presente em 90 a 95% dos casos de úlcera duodenal e em 60 a 80% das úlceras gástricas, ocorrendo em 25 a 30% de indivíduos controles assintomáticos.Quais os mecanismos fisiopatológicos? Foram identificadas pelo menos 2 toxinas produzidas pelo "Helicobacter pylori": Vac A - citotoxina vacuolizanteO processo inflamatório pode localizar-se no antro gástrico, no corpo gástrico ou em todo o estômago, motivo pelo qual os endoscopistas se referem a antrites e pangastrites. A infecção pelo H. pylori determina aumento de interleucina 8 (IL-8), elevação de gastrina, principlamente de gastrina constituída por 17 aminoácidos (G-17), havendo queda de somatostatina. A infecção, principalmente do antro, através da elevação da gastrina, determina a elevação da produção de ácido do estômago. Essa hiperacidez, associada à infecção, levam às gastrites e às úlceras, gástricas ou duodenais. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS Biópsia: Realizada durante endoscopia, que tem sido considerada padrão ouro, (gold standard), mostra a bactéria que tem forma espiralada, em S, como que dobrada sobre si mesma.Teste rápido da urease: É também denominado CLOtest; esse teste é baseado na liberação de amônia que se forma pela atuação da urease produzida pelo H. pylori sobre a uréia (hidrólise). Os indicadores de cor, pela mudança de PH, revelam a presença do H. pylori dentro de 1 hora no máximo. A sensibilidade do método é muito boa. Testes expiratórios 14C e 13C: Altamente sensíveis e específicos. A quantidade de 14C e ou 13C no ar expirado, após ingestão de uréia marcada pelos mesmos, permite verificar a ação do H. pylori sobre a uréia do que decorre a presença no ar expirado de CO2 marcado pelo carbono 13 ou carbono 14. Teste de ELISA: Quantifica anticorpo IgG contra H. pylori. Continua presente (positivo) após a erradicação. P.C.R. (Polymerase Chain Reaction): Visa o reconhecimento do D.N.A. do H. Pylori. No P.C.R, a seqüência de óligonucleótideos do H. pylori é amplificada, utilizando-se "primers" de 10 ou 15 fases. Cultura do H. pylori: Pode ser cultivado mas não se trata de procedimento fácil, mesmo em laboratórios especializados a cultura pode falhar em pelo menos 20% dos casos. A cultura é de interesse na avaliação de resistência a antibióticos, mas, trata-se de método ainda em estudo. VACINA A vacinação contra o H. Pylori é a esperança do mundo científico. Os estudos experimentais estão sendo feitos no rato, com lisado de Helicobacter felis, administrado por via oral, a produção de anticorpos IgA tem sido conseguida. O aprimoramento dessa vacina está requerendo toxinas adjuvantes, quer da E. Coli ou do vibrião colérico. De qualquer forma, não se chegou ainda à vacinação no homem.TRATAMENTO A terapêutica da infecção pelo H. pylori consiste no uso de um ou dois antibióticos associados a antagonistas H2 ou inibidores da bomba protônica. Entre os agentes bacterianos têm-se utilizado amoxicilina, claritromicina e o metronidazol, em diversas associações, através das quais tem-se obtido erradicação entre 60 e 95% dos casos.É importante destacar-se que a falha da terapêutica pode estar relacionada com a não-aderência ao tratamento por parte do paciente, resistência microbiana à antibioticoterapia ou à presença de cepas resistentes. Abaixo, apresentaremos três tabelas que resumem a terapêutica de erradicação, como apresentadas no conclave sobre H. pylori, realizado em Lisboa (outubro de 1997). |