ENDOSCOPIA
EM AÇÃO
Claudio
Lyoito Hashimoto
MédicoPesquisador da Disciplina de Gastroenterologia
da FMUSP
Médico do Serviço de Endoscopia Digestiva
do Hosp. Santa Cruz
AVALIAÇÃO
ENDOSCÓPICA - CÂNCER PRECOCE DO ESTÔMAGO
O
câncer precoce geralmente não
apresenta formato vegetante ou ulcerado. São
lesões que caracterizam-se por mínima irregularidade
mucosa ou alterações de coloração,
muitas vezes difíceis de diferenciar de
erosão péptica, trauma ou atrofia
focal da mucosa (11) (figura 1). Para o diagnóstico
destas lesões, comparação com a mucosa
adjacente, remoção do muco e secreções,
aplicação de corante (por exemplo, índigo
carmim) podem ser de grande auxílio para a
avaliação da morfologia da lesão
(figura 2).
Tsuneoka
et al., 1975 já dizia: "O segredo para diagnosticar
pequenas lesões e às vezes múltiplas
lesões é examinar todas as paredes do estômago
com muita atenção, concentrando-se em
cada local, sem cair numa observação
vaga e superficial e também não se contentar
em observar apenas uma lesão".
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Figura
1: M.P.B, 60 anos, queixas dispépticas.
Lesão de 1,0 cm de diâmetro, bordos
discretamente elevados e depressão central
em corpo gástrico.
Biópsia: adenocarcinoma tubular bem diferenciado. |
Figura
2: Realce de lesão após aplicação
de corante (índigo carmim a 0,4%). |
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TRATAMENTO
PRECOCE DO CÂNCER DO ESTÔMAGO
O
tratamento padrão do CPE em primeira instância
foi o procedimento cirúrgico convencional associado
a linfadenectomia. Estudos posteriores demonstraram
que os CE com invasão limitada à camada
mucosa, sem evidências de cicatriz ou úlcera,
apresentavam baixa freqüência de metástases
em linfonodos (0 a 0,5%). Haveria, portanto, possibilidade
de curar o paciente através da ressecção
local do tumor, sem necessidade de esvaziamento linfonodal
cirúrgico (18).
O
tratamento endoscópico feito por equipe treinada
e experiente ganhou popularidade ao longo dos anos
e revelou-se método eficaz e confiável
para casos selecionados, com resultados comparáveis
à cirurgia convencional (19).
As
indicações para o tratamento endoscópico
curativo no câncer precoce de estômago
são (18,19,20):
1- |
Lesões do tipo II a (plana elevada) e/ou
tipo II b (plana), menor que
2,0 cm de diâmetro, com invasão
estimada até a mucosa, sem sinais
de ulceração ou depressão
e biópsia demonstrando adenocarcinoma bem
diferenciado. |
2- |
Lesão tipo II c (deprimida), menor
que 1,0 cm de diâmetro, com invasão
estimada até a mucosa, sem úlcera
ou cicatriz intramural (endoscopicamente não
apresentam convergência de pregas), do tipo
histológico adenocarcinoma bem diferenciado. |
A
ressecção endoscópica foi incorporada
ao tratamento eletivo no Japão e cerca de 25%
dos pacientes com CPE são tratados endoscopicamente.
A taxa de sobrevida de 5 anos após mucosectomia
endoscópica varia de 95 a 100%, com taxa de
recorrência de 3 a 7%, semelhante à obtida
pelo tratamento cirúrgico (25, 26). As lesões
ressecadas que apresentam invasão maciça
da camada submucosa (mais de 1/3 da camada submucosa
invadida) têm indicação de complementação
cirúrgica com linfadenectomia (18, 25, 26).
Figuras
3, 4, 5, 6, 7 e 8: Mucosectomia endoscópica:
técnica e seguimento. Paciente apresentado
no item diagnóstico endoscópico.
Fig. 3 - Marcar as margens de ressecção
da lesão. |
Fig. 4 - Injeção de solução
salina hipertônica e adrenalina na submucosa,
elevando a lesão. |
Fig. 5 - Laçar
a lesão com alça de polipectomia. |
Fig. 6 - Ressecção da lesão
com corrente de alta freqüência. |
Fig. 7 - Controle Anatomopatológico após
24 meses; adenocarcinoma bem diferenciado com
invasão venosa e linfática ausentes. |
Fig. 8 - Cicatriz após aplicação
de corante (índigo carmim a 0,4%). Biópsias:
sem evidência de lesão neoplásica.
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CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Apesar
do declínio na incidência, o CG ainda
é uma das neoplasias malignas mais freqüentes
e de grande impacto na mortalidade em nosso meio.
Mais de 80% dos casos são diagnosticados em
fase avançado, cuja taxa de sobrevida em 5
anos não ultrapassa 20%. Para melhorar a sobrevida
e a qualidade de vida dos pacientes, deveríamos
investir na detecção de cânceres
em fase precoce.
É
importante que os médicos estejam cientes e
reconheçam a existência do CGP. Os pacientes
acima de 40 anos devem ser esclarecidos e orientados
da importância do exame endoscópico realizado
no início dos sintomas dispépticos,
de preferência antes de iniciar o tratamento.
Indivíduos com queixa dispéptica abaixo
de 40 anos sem sintomas de disfagia, perda de peso,
anemia e hemorragia podem iniciar tratamento empírico
e observação. Em caso de recorrência
precoce dos sintomas (após 30 dias do término
do tratamento) recomenda-se realizar exame endoscópico.
Pacientes acima de 40 anos apresentando recidiva dos
sintomas dispépticos devem ser reinvestigados,
mesmo que a avaliação anterior tenha
demonstrado doença benigna.
As
lesões do CPE geralmente são muito discretas.
O exame endoscópico sistematizado com observação
de todas as paredes do estômago, aplicação
de mucolíticos e corantes e a realização
de biópsias podem otimizar o diagnóstico
de lesões precoces.
Diferenciar
entre lesão mucosa e submucosa é fundamental
para a escolha do tratamento. As lesões ressecadas
endoscopicamente, cujo câncer esteja limitado
à mucosa e tem as margens laterais livres são
consideradas curadas.
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