FUGESP
Revista de Nutrição e Saúde - NUTRIÇÃO E OBESIDADE
Mai/Jun-1999

OBESIDADE INFANTIL X DESENVOLVIMENTO

Dados obtidos da aula proferida pela Dra. Esther Laudanna no Iº Encontro de Nutrição e Obesidade de Piracicaba, em junho de 99.

"SAÚDE é um estado de bem-estar Bio-Psico-Social"
Organização Mundial da Saúde - OMS

O desenvolvimento da criança dá-se nestas três vertentes: biológica, psicológica e social. Alterações do crescimento de uma delas fatalmente acometerá as outras.

As múltiplas habilidades que se devem desenvolver harmonicamente na criança já foram comparadas a bananas verdes no cacho: vão amadurecendo mais ou menos no tempo mas nem todas estão igualmente maturadas.

Perceber e relacionar-se com o bebê só através de poucas facetas é dificultar o crescimento dele como um TODO.

Obter alimento é sem dúvida uma preocupação básica de todo organismo vivo em crescimento. O "filhotinho" do homem, quando nasce, é o mais indefeso dos mamíferos; sua única defesa em prol de suas necessidades é o choro. E que choro! Estridente, ininterrupto, capaz de sensibilizar e afligir ao mais duro dos corações, e é aí que reside o perigo... De todos os incômodos que podem atingir o bebê, a fome é o pior, o mais urgente, mas, e a fralda molhada? O arroto? O frio? O calor? A roupa apertada que impede o movimento? O barulho? A cólica? A mãe ansiosa oferece o leite para todos os choros.

Nesta abordagem vou excluir os recém-nascidos e bebês até 1 ano.

Abordarei o desenvolvimento de crianças de 1 até 13 anos (pré-adolescência). Para facilitar a exposição separei este período da infância em 4 subgrupos:

1 a 3 anos
4 a 6 anos
7 a 10 anos
11 a 13 anos

1 a 3 anos

Aspecto Biológico

É caracterizada pela espessura da prega cutânea e pelo aumento de peso desproporcional ao crescimento, sempre abalizados pelas curvas de desenvolvimento pondo-estatural.

Os indivíduos geneticamente propensos à obesidade mobilizam mal as reservas energéticas, sofrendo mais do que outros o desconforto do jejum - baixa tolerância ao jejum.

COME A INTERVALOS CURTOS

O bebê superalimentado cresce numa proporção maior que os sabidamente nutridos, aumentando sua camada muscular e gordurosa em proporções exuberantes.

O excesso de peso interfere (para pior) no controle de doenças respiratórias de fundo alérgico (asma), doenças da pele (dermatites) e focos irritativos cerebrais (epilepsia).

1 a 3 anos

Aspecto Psicológico

A relação mãe-filho está empobrecida. Todas as trocas afetivas ocorrem através da comida.

Introjeção da imagem:
"barriga cheia = felicidade da mamãe + felicidade do bebê"

1 a 3 anos

Aspecto Social

Socialmente o bebê gordo é um sucesso!

4 a 6 anos

Aspecto Biológico

Acentua-se a fome. Está sempre comendo, petiscando. Ainda mais que agora ele anda, abre armários, latas de bolacha, bombonieres, geladeira.

Continua crescendo e engordando mais que outras crianças de sua idade.

Tem início as queixas de dores nas pernas, joelhos, acentua-se o joelho valgo e nota-se, em alguns "gordinhos", o início de escolioses e lordoses.

4 a 6 anos

Aspecto Psicológico

A socialização tropeça na pouca disposição para as correrias.

A opção pela TV e jogos eletrônicos, pela imobilidade, vai delineando-se com nitidez.

4 a 6 anos

Aspecto Social

Continua sendo um sucesso, é "bonzinho", "bem educado", "come tudo".

Prefere a companhia dos adultos à das outras crianças.

7 a 10 anos

Aspecto Biológico

A criança que já está gorda e grande, no estirão fisiológico do crescimento dos 7 anos apresenta novo aumento rápido de estatura, massa muscular e gordura.

Tem dificuldade para andar de bicicleta, jogar futebol, subir escadas e patinar.

Os exercícios físicos são fundamentais para desenvolver a coordenação motora, modular o metabolismo basal e desenvolver o prazer por uma vida mais sadia.

7 a 10 anos

Aspecto Psicológico

De regra é bom aluno.

No grupo de crianças, apresenta-se como tímido, raramente se manifesta como líder.

Mantém o padrão de criança "obediente", "não dá trabalho", fica horas em frente à TV e alguns já dominam o computador.

7 a 10 anos

Aspecto Social

A família preocupa-se com o tamanho da genilália externa.

É problemático comprar roupa pronta.

Início da preocupação familiar com o excesso de peso, porém, sempre optam por esperar a criança crescer e ficar "um pouco vaidosa".

11 a 13 anos

Aspecto Biológico

Tornam-se evidentes as estrias abdominais e na parte interna da coxa, que apresenta também a pele escurecida pela dermatite de atrito.

Ginecomastia nos meninos.

Abdome em avental nos meninos e meninas.

Descompensações freqüentes da coluna, naqueles que são portadores de escoliose.

Puberdade precoce para meninos e meninas o que resulta num crescimento final menor que o sugerido na primeira infância.

Os genitais externos aparentemente pequenos nos meninos, passam a ser um problema da criança.

11 a 13 anos

Aspecto Psicológico

Este é um período onde se formam a auto-imagem e a auto-estima, que ficam prejudicadas pelo excesso de peso.

A criança passa a recusar a freqüentar piscinas, praia, e alguns até a usar short.

Na escola estabelecem boa camaradagem com os colegas apesar do acentuado sedentarismo.

11 a 13 anos

Aspecto Social

A preocupação da família com a obesidade apresenta-se de forma franca, sem desculpas. Esta mudança é vivenciada pelo pré-adolescente como perda de amor, principalmente se ele tiver um irmão magro.

Os pré-adolescentes tendem a estabelecer vínculos fortes com um amigo; poucos fazem parte de um grupo.

CONCLUSÕES

  • Obesidade Infantil não é um problema de saúde auto-regulável.
  • É preciso a intervenção médica e nutricional.
  • A prevenção e controle da Obesidade Infantil deve ser preocupação de toda a sociedade.
  • Informações simples sobre escolha correta de nutrientes e seus valores calóricos (de forma genérica), deveriam fazer parte do ensino básico.
 

www.fugesp.org.br
FUGESP - Fundação Médico-Cultural de Gastroenterologia e Nutrição de São Paulo
Rua Itacolomi, 601 - 4º andar - Conjunto 46 - Higienópolis - Cep: 01239-020 - São Paulo - SP
© Copyright 2005, FUGESP