AMILOIDOSE Denomina-se
substância amilóide todo depósito protéico
que apresenta típica birrefringência de coloração
esverdeada na luz polarizada após coloração pelo
Vermelho Congo. A doença amiloidose compreende uma variedade
de doenças de depósito que diferem entre si pela natureza
bioquímica da fibrila amilóide, pela etiologia, pelo tropismo
do depósito protéico e pelas manifestações
clínicas. De acordo com a natureza bioquímica, as fibrilas
amilóides podem corresponder a proteínas monoclonais de
cadeia leve k e l na
amiloidose primária (AL), proteína A na amiloidose secundária
(AA), transthietina (pré-albumina) na amiloidose familiar ou
amiloidose senil e B2 -microglobulina (B2- M)
na amiloidose relacionada a pacientes renais crônicos sob regime
de diálise.
A amiloidose tem
um amplo espectro de manifestações clínicas, desde
pacientes assintomáticos, os quais têm depósito
localizado, até pacientes com formas sistêmicas com envolvimento
generalizado e falência de múltiplos órgãos.
- Amiloidose
Primária (AL)
É o tipo mais freqüente de amiloidose, correspondendo
a dois terços dos casos nos Estados Unidos. A proteína
amilóide se parece com a proteína de Bence-Jones do
mieloma múltiplo, sendo que em algumas ocasiões torna-se
difícil o diagnóstico diferencial entre as duas entidades
e algumas vezes elas se associam.
A idade média do diagnóstico encontra-se em torno de
60-65 anos, sendo infreqüente em pacientes abaixo de 40 anos
e, segundo um estudo da Clínica Mayo publicado em 1995, é
mais freqüente em homens.
As manifestações clínicas mais freqüentes,
ocorrendo em 80% dos pacientes, são fadiga crônica e
perda ponderal. Associado a estes sintomas os pacientes podem apresentar
púrpura na face ou periorbital, dor óssea, parestesias,
cefaléia, síncope e neuropatia periférica. Podem
também apresentar quadro de insuficiência cardíaca
congestiva com dispnéia, ortopnéia, edema de MMII e
hepatomegalia. No exame físico, chama a atenção
o fígado aumentado de tamanho em número significativo
de pacientes. O baço está aumentado em 10% dos pacientes.
Macroglossia, hipotensão ortostática, pápulas
disseminadas no corpo e linfoadenomegalia são encontradas menos
comumente. Pode ocorrer também ascite. Algumas síndromes
também devem ser lembradas no diagnóstico de amiloidose:
síndrome nefrótica e insuficiência renal, síndrome
do carpo, neuropatia periférica, insuficiência cardíaca
e distúrbios gastrointestinais secundários ao envolvimento
do sistema nervoso simpático.
Nos achados laboratoriais estão incluídos discreta anemia
normocrômica e normocítica e trombocitose. Geralmente,
a contagem de leucócitos e seu diferencial são normais.
Metade dos pacientes apresenta insuficiência renal com creatinina
acima de 2mg/dl. Na eletroforese de proteínas é freqüente
hipoalbuminemia e pico monoclonal em 50% dos pacientes. Na imunoeletroforese
sérica e urinária observa-se presença de paraproteína
(M-proteína) em 75% dos pacientes; em geral são proteínas
de cadeia leve k e l. Proteinúria com síndrome nefrótica
está presente em 30% dos pacientes. Elevação
da fosfatase alcalina está presente em um terço dos
pacientes; contudo, hiperbilirrubinemia e falência hepática
são incomuns.
O diagnóstico de amiloidose primária deve ser considerado
em todo paciente que apresenta hepatomegalia, síndrome nefrótica
e/ou insuficiência renal associadas a neuropatia periférica
e presença de paraproteína no soro ou urina. A confirmação
do diagnóstico deve ser feita pela presença de substância
amilóide corada pelo Vermelho Congo, no fígado, rins,
medula óssea, tecido subcutâneo ou retal. Biópsia
hepática em geral faz o diagnóstico.
Os melhores resultados com o tratamento estão relacionados
ao uso concomitante de melfalan e prednisona. Colchicina pode ser
associada ao melfalan e prednisona. Embora a sobrevida média
após o diagnóstico seja de 12 meses, quando existe comprometimento
cardíaco com insuficiência, o prognóstico é
pior com sobrevida de 5-6 meses. Em geral, a morte é atribuída
ao envolvimento cardíaco.
- Amiloidose
Secundária (AA)
Também chamada de amiloidose reativa, é referenciada
como o segundo tipo de amiloidose mais freqüente. O depósito
amilóide consiste na presença de uma proteína
denominada de proteína A, sintetizada no fígado após
estímulo inflamatório crônico (relacionado a produção
de interleucinas I e 6 e Fator de Necrose Tumoral). Este tipo de amiloidose
pode ocorrer nas doenças crônicas inflamatórias
como doenças reumáticas, doenças infecciosas
(tuberculose, osteomielite, sífilis), doenças malignas
(carcinomas), doença de Crohn, Febre do Mediterrâneo,
entre outras.
A amiloidose secundária geralmente envolve o fígado,
baço e rins. Raramente tem envolvimento cardíaco ou
do sistema nervoso periférico. O diagnóstico baseia-se
na demonstração do Vermelho Congo nos tecidos como fígado,
baço ou rins. Nesta amiloidose não existe a presença
de paraproteína no soro ou urina e existe uma doença
inflamatória de base.
O tratamento é direcionado à patologia de base e em
alguns casos o uso de colchicina pode ser benéfico.
- Amiloidose
Familiar
Também chamada de Doença dos Pezinhos, é o terceiro
tipo de amiloidose e está associada com a presença de
uma pré-albumina anormal, que deveria transportar tiroxina
e a proteína ligada ao retinol. Esta pré-albumina é
denominada de transtrietina.
Esta amiloidose é uma doença autossômica dominante,
muito prevalente em pacientes portugueses, a qual causa infiltração
de substância amilóide no fígado, coração,
rins e nervos periféricos. Os pacientes apresentam dor nas
pernas, perda da sensação térmica em MMII, infecções
nos pés e pernas, hipotensão ortostática, impotência
e, em estágios mais avançados, incontinência de
bexiga e intestino.
O diagnóstico da amiloidose familiar é feito pela demonstração
histológica da substância amilóide em biópsia
de nervo, músculo, fígado, gordura subcutânea
e rins. Também, atualmente pode ser identificada por análise
de biologia molecular.
Não há tratamento definitivo para neuropatia amilóide,
mas a realização de transplante hepático nos
casos iniciais pode inibir a progressão da neuropatia e da
doença.
- Amiloidose
Relacionada à Diálise
Este tipo de amiloidose ocorre em pacientes portadores de insuficiência
renal em regime de hemodiálise ou diálise peritoneal
há mais de 8 anos. A substância amilóide corresponde
a B2 -microglobulina, a qual deposita nas articulações,
ossos, síndrome do carpo e área periarticular. Os pacientes
referem dor articular, tenossinovites e dor óssea. Podem apresentar
fraturas patológicas. O diagnóstico deve ser cogitado
em todo paciente que faz diálise há mais de 8 anos e
apresenta dores ósseas ou articulares e tem B2 -microglobulina
elevada no soro.
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