FORMAS
GRAVES DA DOENÇA DE CROHN
Cláudia P. M. de
Oliveira
FÍSTULA
PERIANAL NA DOENÇA DE CROHN: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
A doença
de Crohn caracteriza-se por apresentar inflamação transmural e assimétrica
que pode comprometer todo o trato gastrointestinal, com potencial para
desenvolver manifestações extraintestinais. Abrange um amplo espectro
clínico e anatomopatológico manifestado por curso clínico variável,
podendo afetar qualquer idade, porém sendo mais comum em adultos jovens.
Esta patologia tem tido sua incidência aumentada nos últimos anos.
Apresenta uma heterogeneidade
de manifestações de acordo com o local de comprometimento e tipo de
inflamação. O melhor conhecimento das diversas formas de apresentação
da doença de Crohn pode predizer a evolução clínica e traçar melhor
conduta terapêutica. As principais formas de apresentação da doença
são: predominantemente inflamatória, fibroestenótica e fistulizante.
A forma fistulizante é conseqüência da comunicação anormal entre duas
estruturas epitelizadas. As fístulas podem ser enterocutâneas, entero-entéricas,
enterocolônicas, reto-vaginais, enterovesicais e perianais. As fístulas
perianais ocorrem em 17-40% dos pacientes com doença de Crohn, sendo
mais freqüentes em pacientes com envolvimento do cólon e reto.
As principais manifestações
das fístulas perianais incluem secreção, enduração, dor, restrição da
atividade sexual, limitação das atividades habituais e depressão. O
diagnóstico destas fístulas pode ser feito pela inspeção da região anal,
toque retal, fistulografia, tomografia computadorizada e ressonância
nuclear magnética do abdome e ultra-sonografia endoanal. A fistulografia
apresenta acurácia que varia de 16% a 50%. A tomografia, acurácia de
24% a 60%. A ressonância nuclear magnética e a ultra-sonografia endoscópica
apresentam melhor acurácia para diagnosticar o trajeto fistuloso, da
ordem de 76% a 100%. Métodos cirúrgicos sob anestesia podem ajudar,
caso os métodos de imagem nada esclareçam.
O tratamento
das fístulas perianais pode ser iniciado com terapia clínica através
de antibióticos e imunomoduladores. O metronidazol tem sido utilizado
para tratamento de fístulas perianais, demonstrando fechamento completo
das fístulas no período de 6 a 8 semanas em 34% a 50% dos pacientes.
Contudo, quando o antibiótico é descontinuado, a fístula pode reaparecer.
Outro antibiótico que vem sendo utilizado é a ciprofloxacina, embora
não existam estudos controlados e randomizados a respeito. Os efeitos
colaterais do metronidazol são mais exuberantes e incluem gosto metálico,
glossite, náusea e neuropatia periférica. Em estudo prévio efetuado
por nosso grupo, observou-se boa resposta no fechamento da fístula perianal
com a utilização de antibióticos e câmara hiperbárica. Os imunomoduladores
como a azatioprina e 6-mercaptopurina também têem sido utilizados para
tratamento de fístulas perianais com bons resultados. A meta-análise
de cinco estudos controlados demonstrou que cerca de 50% dos pacientes
tiveram suas fístulas fechadas versus 21% do grupo placebo. Além disso,
estes imunomoduladores estabilizam os sintomas da doença de Crohn e
reduzem a necessidade de corticosteróide. Os principais efeitos colaterais
são leucopenia, reações alérgicas, pancreatite, infecções e hepatite,
ocorrendo em 10 a 15% dos casos. Baseados na literatura e na experiência
do grupo, recomendamos abordagem clínica para o tratamento das fístulas
perianais, com uso da azatioprina associada a antibiótico e, quando
possível, o uso da câmara hiperbárica antes de se tentar o procedimento
cirúrgico.
Recentemente, o
uso do infliximab, o anticorpo contra o fator de necrose tumoral, tem
sido aventado no tratamento da doença de Crohn fistulizante. Os resultados
dos principais estudos demonstram o fechamento das fístulas em 50% a
70% dos casos. Estudos controlados ainda em aberto têm avaliado
a eficácia, segurança e o custo-benefício deste medicamento. Os efeitos
adversos incluem reações alérgicas, formação de anticorpos contra o
medicamento, lúpus induzido pela droga, infecções, abscesso perianal,
sepses. Outras drogas como a ciclosporina e o tacrolimus também têm
sido estudadas, contudo ainda sem resultados definidos.
Pacientes que apresentam
complicações da fístula perianal como abscessos necessitam de abordagem
cirúrgica imediata, com drenagem cirúrgica. Fístulas superficiais que
não respondem ao tratamento clínico com imunomoduladores e antibióticos
e apresentam desconforto podem ser tratadas cirurgicamente com fistulectomia.
Fístulas mais profundas e complexas com envolvimento de grande porção
do esfíncter anal devem ter tratamento conservador.
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