COMPORTAMENTO DO ESFÍNCTER INFERIOR DO ESÔFAGO EM PACIENTES PORTADORES
DE ASCITE
Antonio
A. Laudanna
Esse assunto é de grande importância, pois os pacientes portadores de
ascite, em sua maioria, são hepatopatas crônicos, com varizes de esôfago.
A exposição das varizes ao refluxo gastroesofágico seguramente pode
favorecer sangramentos. Esse assunto foi estudado em nosso grupo de
trabalho por Tomás Navarro Rodrigues, que estudou 16 pacientes.
Rodrigues T. N. mediu a pressão do esfíncter inferior do esôfago e os
episódios de refluxo através de pHmetria de 24 horas. Transcrevo, a
seguir, o sumário de seu trabalho.
"O
objetivo deste estudo prospectivo foi avaliar a influência da
pressão intra- abdominal sobre a pressão do esfíncter inferior do esôfago
e a pHmetria intra- esofágica de 24 horas em pacientes com ascite antes
e após paracentese. Foram avaliados 16 pacientes que apresentavam indicação
de paracentese esvaziadora. O sintoma mais comum referido foi eructação
(11 casos - 68,75%); pirose foi referida por apenas dois pacientes (12,5%).
Ao exame de endoscopia digestiva alta, 13 pacientes apresentaram varizes
de esôfago e um apresentou esofagite. O peso e a circunferência abdominal
reduziram-se significativamente antes e após a paracentese (p = 0,0004*,
em ambas as avaliações). A quantidade de líquido ascítico retirado
foi, em média, de 11.097ml. A determinação da pressão intra-abdominal
foi realizada por meio de dispositivo ("cachimbo") que permitia a leitura
em milímetros de mercúrio, sendo medida antes e imediatamente após a
paracentese esvaziadora. Ocorreu redução significativa (p=0,0004*) na
pressão intra-abdominal antes (15,18 ±,83 mmHg) e após a paracentese
(3,31 ± 3,13 mmHg). Não foi observada correlação entre a redução de
peso/circunferência abdominal e a redução na pressão intra-abdominal.
Os resultados foram divididos em dois lotes distintos: grupo A, em que
a redução da pressão intra-abdominal foi maior que 70%, e grupo B, quando
menor que 70%. A pressão do esfíncter inferior do esôfago, mensurada
através da manometria esofágica, não se alterou significativamente (p
= 0,3794) com a redução da pressão intra-abdominal (antes 17,48 ± 8,62
mmHg; após 18,67 ± 5,94 mmHg). Quando analisados os dois grupos antes
(A = 15,60 ± 6,00 mmHg e B = 23,09 ± 13,53 mmHg) e após (A= 18,04 ±
5,13 mmHg e B = 20,40 ± 8,50 mmHg) também não houve diferença estatística
(p= 0,1823 e p = 0,4652, respectivamente) nas medidas de pressão do
esfíncter inferior do esôfago. A determinação da pHmetria intra-esofágica
de 24 horas evidenciou que, em sete parâmetros, dentre os oito analisados,
não houve diferença estatística antes e após a paracentese. O único
parâmetro em que ocorreu diferença estatística (p = 0,0480*) foi o número
total de episódios de refluxo, tendo sido significativamente maior no
período que antecedeu a paracentese (520,26 ± 1035,79) que após a mesma
(136,26 ± 169,49). Comparando-se os grupos A e B verificou-se que todos
os parâmetros de pHmetria foram diferentes estatisticamente no grupo
A nos períodos pré e pós redução da pressão intra-abdominal (p< 0,05).
No grupo B a paracentese não condicionou diferenças significativas na
pHmetria (p > 0,05). Concluiu-se que os pacientes com ascite apresentaram
importante refluxo gastroesofágico ao exame de pHmetria intra-esofágica
de 24 horas, embora a pressão do esfíncter inferior do esôfago à manometria
esofágica apresentasse valores normais. Com a redução da pressão intra-abdominal
não houve diferença na pressão do esfíncter inferior do esôfago, tendo
ocorrido somente tendência estatística à diferença ao exame de pHmetria
de 24 horas. Quando se considerou a redução da pressão intra-abdominal
maior que 70% do valor inicial, foi caracterizada uma redução significativa
do refluxo gastroesofágico sem alteração na pressão do esfíncter inferior
do esôfago."
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