COLONSCOPIA
EM AÇÃO
Cláudio
Lyoiti Hashimoto
Médico Pesquisador da Disciplina de Gastroenterologia da FMUSP
CROMOENDOSCOPIA
NO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER
PRECOCE DE ESÔFAGO
A utilização
da solução de lugol associado ao exame endoscópico, denominado de cromoendoscopia,
foi um importante advento no diagnóstico do câncer precoce de esôfago.
Sabe-se
que em muitos casos de câncer precoce do esôfago, as alterações macroscópicas
são mínimas e de difícil caracterização, como mudanças de coloração
e discretas alterações na superfície como presença de elevação ou depressão
e granularidade.
Essas
alterações podem ser tão sutis que além da dificuldade de detecção,
freqüentemente associa-se a delimitação precisa das margens da
lesão e também escolha do local mais apropriado a ser biopsiado.
A
solução de lugol é um corante vital, na qual o iodo ali presente interage
com o glicogênio contido nos três quartos superiores do epitélio escamoso
normal, conferindo mudança característica de cor.
A mucosa
esofágica é preparada previamente com a aplicação do corante, instilando-se
em seguida uma solução mucolítica (por exemplo, n-acetil-cisteína) e
água, a fim de remover os resíduos de muco e saliva. Aplica-se, a seguir,
a solução aquosa de lugol a 2% em toda extensão do esôfago. A mucosa
normal apresenta coloração amarronzada ou acastanhada característica
(fotos 1a e 1b), enquanto áreas de alta concentração de glicogênio (acantose)
aparecem hipercoradas.
Áreas
com displasia, neoplasia, inflamação e mucosa ectópica, no entanto,
apresentam menor quantidade de glicogênio ou ausência deste e, por isso,
não coram ou coram-se fracamente, contrastando com o epitélio normal.
|
Foto
1a) Transição esôfago-gástrica normal (endoscopia convencional) |
Foto 1b) Transição
esôfago-gástrica após cromoendoscopia com solução de lugol. |
|
|
Foto 2) Área
hipercorada após cromoendoscopia, compatível com acantose glicogênica. |
Tabela
1. Concordância entre método endoscópico e cromoendoscópico.
INVASÃO |
EDA
(N) |
CROMO
(N) |
CONCORDÂNCIA
(%) |
MP |
2 |
2 |
100,0 |
SM |
8 |
8 |
100,0 |
Ca
in situ |
10 |
18 |
55,55 |
NIE
grau II |
6 |
18 |
33,33 |
- MP: limitado
à camada muscular própria
- SM: carcinoma
com invasão de camada submucosa
- Ca In situ:
carcinoma in situ
- NIE grau II:
neoplasia intra-epitelial grau II
Quanto maior
o diâmetro da área hipocorada, maior a freqüência de casos de neoplasia
e, também, maior a profundidade de invasão da lesão (tabela 2).
Tabela 2. Relação
entre diâmetro da área hipocorada e diagnóstico histopatológico.
HISTOLOGIA |
TAMANHO
(DIÂMETRO EM MILÍMETROS) |
|
Até
5 |
6
a 10 |
11 |
Total |
NIE
grau II |
0
(0,0%) |
13
(72,2%) |
5
(27,8%) |
18
(100,0%) |
Carcinoma
in situ |
0
(0,0%) |
5
(27,8%) |
13
(72,2%) |
18
(100,0%) |
Carcinoma
invasivo |
0
(0,0%) |
2
(20,0%) |
8
(80,0%) |
10
(100,0%) |
Total |
4 |
16 |
26 |
46 |
O procedimento completo
leva cerca de 15 a 20 minutos, mas depende do número de lesões encontradas,
assim como o número de biópsias e, naturalmente, da habilidade do endoscopista.
Não há acréscimo
importante no custo em relação ao exame endoscópico convencional. O
custo de 300 ml de solução mucolítica de n-acetil-cisteína é de R$ 2,00,
e 40 ml de solução de lugol custam cerca de R$ 1,00.
Quanto aos efeitos
adversos foram observadas queixas de náusea e queimação retroesternal
transitórias, sem outros efeitos colaterais graves. Convém lembrar,
no entanto, que deve-se certificar se o paciente não apresenta alergia
ao iodo ou outras doenças que contra-indiquem o uso de iodo.
É importante lembrar
que a possibilidade de poder oferecer maior sobrevida aos pacientes
com câncer de esôfago depende fundamentalmente do diagnóstico precoce
seguido da ressecção do tumor.
Os pacientes com
neoplasia primária de cabeça e pescoço apresentam elevada prevalência
de câncer de esôfago em comparação à população em geral.
A cromoendoscopia,
além da elevada sensibilidade no diagnóstico de lesões precoces do câncer
de esôfago, auxilia a delimitar as margens da lesão, facilitando a realização
de biópsias.
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