FUGESP
Revista de Gastroenterologia da Fugesp - ÚLCERA DUODENAL "HELICOBACTER PYLORI" E ACIDEZ GÁSTRICA
Jul/Ago-1999

ENDOSCOPIA EM AÇÃO

PONTOS A PONDERAR NO EXAME ENDOSCÓPICO
Dr. Shinichi Ishioka

O exame endoscópico bem conduzido é seguro e não agressivo

Nestes últimos 30 anos, o exame endoscópico passou a ser a primeira opção como método propedêutico para esclarecimento das queixas digestivas, substituindo quase totalmente o exame radiológico contrastado. Esta inversão ocorreu em consequência do enorme desenvolvimento em relação aos equipamentos endoscópicos, que permitem diagnósticos diretos e imediatos bem como de sua aplicabilidade em várias partes do aparelho digestivo.

Desta forma, assim como a indicação do exame endoscópico vem sendo cada vez mais generalizada, o número de endoscopistas também vem aumentando progressivamente e, na conjuntura atual, grande parte dos pacientes ainda o desconhecem e são influenciados por informações errôneas de que o método édoloroso, muito incômodo, enfim horroroso.

Afortunadamente, grande número de pacientes que tiveram necessidade de se submeter ao exame, desde que realizado adequadamente, referem como o procedimento foi inócuo, sem desconforto e extremamente útil para o diagnóstico do seu problema digestivo. Considerando o aumento constante e progressivo de médicos que se interessam e passam a se dedicar a endoscopia, iniciamos aqui comentários referentes à metodização da técnica, comentários esses que terão prosseguimentos nos próximos números da revista.

Alguns requisitos são necessários para a realização do tal exame bem feito, geralmente a maior preocupação recai sobre as qualificações do especialista e dos equipamentos, pré-requisitos mínimos para o bom atendimento do paciente.

Para tanto, sempre é útil lembrar da importância do preparo, da escolha do instrumental e sobretudo da técnica da realização do exame.

Neste comentário, serão enfatizados sucintamente o preparo e a introdução do endoscópico, tempos estes do exame que são críticos para o sucesso do mesmo.

PREPARO DO PACIENTE

Quanto ao preparo, além das orientações para o período de jejum e outros cuidados, é fundamental que os pacientes recebam informações adequadas quanto ao procedimento. Este expediente poderá ser iniciado através de profissionais preparados, desde o momento do agendamento e durante as avaliações clínicas, até pouco antes do exame, procurando desmistificar o temor e os comentários negativos daqueles que passaram por experiências ruins e sem tais cuidados.

Ao médico endoscopista cabe apenas reforçar estas idéias no momento do seu atendimento, enquanto se fazem as avaliações dos antecedentes, do estado clínico e se planejam o preparo medicamentoso e os aspectos técnicos do exame a realizar. Nos dias de hoje, felizmente, pode-se dispor de vários medicamentos quanto à sedação ou até anestesia, de tal maneira que se consegue programar a intensidade desses recursos, atendendo-se à situação de cada paciente.

O adequado conhecimento dos medicamentos em uso e dos que o paciente já utilizava são fundamentais. Esta sedação deve ser feita pelo próprio examinador ou sob estrita vigilância dele, quando necessário auxiliado por anestesista e, conforme o caso, com monitoração cardíaca e medidas de saturação de oxigênio.

PASSAGEM DO ENDOSCÓPIO

A etapa seguinte é a introdução do endoscópio que é tão importante quanto a anterior, pois a tranqüilidade do paciente durante o exame depende dessas duas etapas.

Para que esta manobra seja bem sucedida, é necessário que se atente para alguns itens fundamentais, tais como a suavidade e destreza nos movimentos efetuados pelo examinador, o nível da sedação utilizada e do tipo de endoscópio em uso.

O manuseio do equipamento para que a introdução seja suave, exige do endoscopista treinamento adequado, pois além dos movimentos cuidadosos e específicos é importante a identificação das estruturas anatômicas e também das patologias próprias deste segmento (Fig. 1). Em relação a estas afecções, recomenda-se para todo endoscopista que tenha conhecimentos básicos de anatomia, de fisiologia e das patologias faringolaríngeas.

Ainda quanto ao manuseio do equipamento, deve-se lembrar que, atualmente, utilizam-se endoscópios de observação frontal predominantemente para as esôfago-gastro-duodenoscopias e os de visão lateral para as gastroduodenoscopias. Estes últimos são habitualmente introduzidos com manobras diretas e sem a identificação das estruturas por onde se passa com o aparelho, implicando em treinamentos e cuidados.

GRAUS DE SEDAÇÃO

Quanto ao grau de sedação e passagem do aparelho, deve-se considerar que quando se opta por sedação leve ou moderada, existe sempre certa reação por parte do paciente, mesmo que anestesiado localmente durante o exame, pois a região faringolaríngea é muito sensível ao toque do aparelho. Desta forma, estando o paciente sedado, porém consciente, o médico, com palavras calmas e seguras, pede a colaboração do mesmo, buscando relaxamento e solicitando movimentos de deglutição, sincronizados com a introdução do aparelho, pois, do contrário haveria sério desconforto a tornar um exame tranqüilo em agressivo. Em casos de sedação maior, os cuidados gerais, inclusive quanto à saturação de oxigênio, serão devidamente observados (veja figuras 1 e 2).

Para finalizar, estas são as recomendações básicas e iniciais para que se faça um exame endoscópico bem feito o que só será possível quando o mesmo é executado por endoscopista bem preparado.

Fig. 1

Fig. 2


Fig.1- Introdução delicada do aparelho através de bocal.

Fig.2- Visão anatômica. Destacando-se as aritenóides e os seios piriformes
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