TEORIA
DO “CARCINOMA DE NOVO”
Lesões Deprimidas do Cólon:
Mito ou Realidade?
No
ocidente, o colonoscopista é treinado para diagnosticar lesões
polipóides no cólon. Isto se deve, em parte, à
teoria proposta por Morson sobre a seqüência adenoma-carcinoma
(J. Surg., 1968).
Segundo essa teoria, os pólipos adenomatosos apresentariam displasia
ao aumentarem de tamanho e, numa etapa posterior, poderiam transformar-se
em câncer.
Várias
evidências reforçam a teoria da "seqüência
adenoma-carcinoma".
- Adenomas são
6X mais comuns em pacientes com câncer colorretal;
- Carcinomas metacrônicos
são 2X mais comuns em pacientes com câncer colorretal
e adenomas;
- 75% dos pacientes
com câncer sincrônico têm adenomas;
- Displasia, aneuploidia
e câncer focal podem ser observados em adenomas;
- Adenomas parecem
preceder carcinomas por um período estimado de 10 a 15 anos;
- Pacientes com
alto risco de desenvolver câncer têm adenomas múltiplos
ou adenomas maiores que 1 cm de diâmetro;
- Há evidências
genéticas da progressão de adenoma para carcinoma.
TEORIA
DO "CARCINOMA DE NOVO"
De
acordo com a teoria da seqüência adenoma-carcinoma,
2/3 dos casos de carcinoma colorretal originam-se de pólipos
adenomatosos (Fig. 1) (J. Surg.,1968).
Em
1/3 dos casos, no entanto, não se conhece a origem do câncer.
Também se questionou como os carcinomas avançados de cólon,
que na maioria dos casos apresentam-se ulcerados, podem evoluir a partir
de pólipos adenomatosos pediculados. Onde estariam as lesões
intermediárias entre os pólipos sésseis e pediculados
e o câncer ulcerado (Fig. 1)?
Para
responder a estas questões a teoria do "carcinoma de novo",
proposta por pesquisadores japoneses, sugere que 1/3 dos casos de câncer
colorretal ocorre a partir de lesões planas ou deprimidas (Fig.
2) (Jpn J. Gastroenterol., 1975).
EVOLUÇÃO
DA TEORIA DO "CARCINOMA DE NOVO"
- 1977, Japão:
Kariya descreveu o primeiro relato de caso de carcinoma precoce deprimido
do cólon. Na ocasião, a lesão foi denominada
de câncer fantasma", devido à sua raridade;
- 1989, Japão:
Kudo relatou 18 casos de lesões deprimidas. O fato foi considerado
como doença endêmica de Akita, província onde
foram diagnosticadas;
- 1997, Japão:
com a evolução das técnicas de exame e a aceitação
da existência das lesões planas e deprimidas, houve um
aumento no diagnóstico dessas lesões. Atualmente, 17%
a 53% dos cânceres colorretais são diagnosticados em
fase precoce. Dos cânceres precoces, cerca de 18% a 41 % são
lesões deprimidas.
Fig
2. Teoria do Carcinoma de Novo.
EXISTÊNCIA
DAS LESÕES DEPRIMIDAS
FORA DO JAPÃO
Ainda
restava uma questão: essas lesões seriam endêmicas
e exclusivas do Japão? Em 1994, o pesquisador japonês Dr.
Takahiro Fujii foi convidado a realizar exames colonoscópicos
no Centro de Doenças do Aparelho Digestivo de Leeds, na Inglaterra
(Jpn J Clin. Oncol., 1997).
Na
ocasião, foram diagnosticados 68 pólipos adenomatosos
e 7 carcinomas precoces em 208 pacientes. Entre os sete casos de carcinoma
precoce, uma lesão era plana e duas deprimidas, demonstrando,
portanto, a existência dessas lesões fora do Japão.
IMPORTÂNCIA
DAS LESÕES DEPRIMIDAS
Estas evidências
são importantes na elaboração de estratégias
de detecção de câncer colorretal em fase precoce.
- Há necessidade
da realização de treinamento especial para detecção
de lesões planas ou deprimidas. Estas lesões são
de difícil diagnóstico, em geral apresentam-se como
áreas focais de hiperemia e/ou leve retração
de pregas;
- O preparo adequado
do cólon e a utilização rotineira de corante
como o índigo carmim podem auxiliar no diagnóstico.
Outro
fato é que as lesões deprimidas têm alto potencial
invasivo e quando atingem 2 cm de diâmetro há invasão
da camada submucosa em 94% dos casos (gráfico 1). Por outro lado,
as lesões polipóides com 2 cm de diâmetro apresentam
invasão em menos da metade dos casos (gráfico 2) (Centro
Nacional de Câncer do Japão, 1997).
Gráfico
1 - Lesões deprimidas. Relação diâmetro x invasão da camada submucosa
Gráfico 2
- Lesões polipóides. Relação diâmetro
x invasão da camada submucosa
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