CURSO
DE HEPATOLOGIA
FUNÇÃO
HEPÁTICA 2 - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS ICTERÍCIAS
Cláudia
P. M. S. de Oliveira
Médica Pesquisadora da Disciplina de Gastroenterologia
da FMUSP
Deve
ser realizada minuciosa anamnese contendo história
da doença, modo de início, duração, informações sobre
presença ou ausência de febre, acolia fecal, colúria
e prurido, dor no hipocôndrio direito e epigástrio,
antecedente de uso de drogas, contato com pessoas
com hepatite, antecedentes familiares de icterícia,
história de etilismo, hepatopatia crônica ou colelitíase.
A
presença de prurido, acolia fecal e colúria sugerem
processo obstrutivo intra ou extra-hepático. Nos processos
parenquimatosos a acolia é geralmente fugaz ou inexistente.
As dores em cólica no hipocôndrio direito são sugestivas
de colelitíase. Antecedente familiar de icterícia
pode sugerir doença hereditária.
No
exame físico, além da identificação da icterícia na
pele e mucosas, devem-se explorar sinais de hepatopatia
crônica ("spiders", eritema palmar e ginecomastia);
à palpação do abdome avaliar a presença de hepatomegalia,
esplenomegalia, ascite, circulação colateral ou sinal
de Murphy.
A
vesícula palpável (sinal de Curvosier-Terrier) em
icterícias crônicas sugere obstrução baixa das vias
biliares, como tumor de pâncreas. Lembrar que icterícias
por obstruções prolongadas podem conferir à
pele aspecto esverdeado (icterícia verdínica), devido
à oxidação da bilirrubina em biliverdina. A
história clínica e o exame físico bem feitos possibilitam
o diagnóstico etiológico em 70% dos casos.
Nos
exames laboratoriais avaliar se há predomínio da BD
ou BI. Elevação predominante da BI associada à anemia,
aumento dos reticulócitos, elevação da DHL e redução
da haptoglobina sugerem quadro de hemólise.
Por
outro lado, caso exista predomínio da BD associado
ao prurido e elevação das enzimas canaliculares (fosfatase
alcalina e gama-GT), deve-se pensar em colestase.
Na
investigação das colestases, deve-se tentar definir
primeiramente se a colestase é intra ou extra-hepática.
Um dos exames complementares que mais auxiliam nesta
diferenciação e é de fácil acesso e baixo custo é
a ultra-sonografia. Quando o fígado é normal e não
há dilatação das vias biliares intra ou extra-hepáticas,
trata-se de uma colestase intra-hepática. Caso contrário,
diagnostica-se colestase extra-hepática.
Na
investigação das colestases intra-hepáticas devem-se
pesquisar auto-anticorpos, sorologias virais, avaliar
detalhadamente o uso prévio de drogas, doenças auto-imunes
concomitantes, excluir gravidez e infecções.
Na
presença de lesão hepatocelular há elevação das aminotransferases,
redução da albumina e da atividade de protrombina.
Caso exista alguma massa à ultra-sonografia, pode-se
investigar melhor por meio de tomografia computadorizada
de abdome. A colangiopancreatografia endoscópica retrógrada
(CPRE) e a biópsia hepática estão indicadas nas colestases
intra-hepáticas quando não se consegue o diagnóstico
etiológico da colestase por todos estes outros exames
mencionados acima. A biópsia hepática deve ser realizada
na dúvida diagnóstica e no estadiamento de doenças
crônicas do fígado. Contudo, deve-se contra-indicar
a biópsia hepática nas colestases em que exista dilatação
da árvore biliar.
Nas colestases extra-hepáticas, em que se visualiza
dilatação da árvore biliar intra-hepática e os métodos
de imagem (ultra-sonografia e tomografia) não conseguem
esclarecer o diagnóstico, pode-se solicitar uma colangiografia
transparieto-hepática percutânea ou, mais modernamente,
a colangiografia por ressonância nuclear magnética.
Quando a dilatação é principalmente extra-hepática,
pode-se solicitar CPRE ou a colangioressonância.
Além
dos métodos de imagem acima referidos, fica aqui lembrada
a ultra-sonografia endoscópica ou Endo Ecografia (EE)
que, a partir do esôfago ou do estômago, permite conhecer
a própria "parede" desses órgãos, como de suas adjacências.
A EE é particularmente útil no diagnóstico de patologias
e tumores pancreáticos causadores de icterícia; através
da face posterior do estômago "vê-se" o pâncreas com
boa acurácia. A referida acurácia tem sido considerada
equivalente à colangiografia retrógrada endoscópica.
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