ESTRESSE
OXIDATIVO
Dra.
Claudia P.M.S. Oliveira
Médica pesquisadora da Disciplina de Gastroenterologia
da FMUSP
1
- Bases bioquímicas
Durante
o metabolismo celular aeróbico, normalmente
são produzidas uma série de substâncias
eletricamente instáveis, potencialmente reativas
com moléculas biológicas capazes de
causar oxidação e dano irreversível
à célula.
Estas
substâncias são denominadas radicais
livres ou espécies reativas de oxigênio.
São definidas como qualquer espécie
capaz de existir independentemente, que contenha um
elétron não pareado na última
camada (ou seja, elétrons que ocupam sozinhos
a última órbita atômica).
A
produção normal de espécies reativas
no metabolismo celular é proveniente da geração
oxidativa de energia pela cadeia mitocondrial,
de radicais livres pelo citocromo
P-450, do mecanismo de defesa dos fagócitos
que produzem radical superóxido para causar
morte em microorganismos, entre outros mecanismos
associados.
Durante
a geração oxidativa de energia na respiração
mitocondrial, 95% do oxigênio consumido pelas
células é metabolizado na mitocôndria,
onde é reduzido por 4 elétrons pela
citocromo oxidase, originando duas moléculas
de água.
Contudo, 3 a 5% do O2 é reduzido por menos
de 4 elétrons, produzindo metabólicos
reativos do oxigênio, como mostra a reação
abaixo. Os principais radicais livres derivados do
oxigênio são os radicais superóxido
(O2-.), radical
hidroxil (OH.), radical peroxil (HO2.).
Redução seqüencial univalente do oxigênio
molecular produzindo radical superóxido (O2.),
peróxido de hidrogênio (H2O2),
radical hidroxil (OH.) e, finalmente,
água (H2O).
2
- Antioxidantes
Apesar
de existir normalmente excessiva produção
de espécies reativas, estas são inativadas
por substâncias denominadas antioxidantes.
Existem
os antioxidantes que se encontram no meio extracelular
e aqueles do meio intracelular. Os principais anti-oxidantes
do meio extracelular são: albumina, ceruloplasmina,
alfa-tocoferol, ácido ascórbico, betacaroteno
e transferrina.
Os
do meio intracelular são a glutationa (maior
antioxidante endógeno), a superóxido
dismutase e catalase. Estes antioxidantes removem
radicais superóxido, hidroxil e peroxil.
3-
Conceito de estresse oxidativo
Assim,
o organismo está normalmente em equilíbrio
entre a produção e degradação
de radicais livres. Quando existe um desequilíbrio
entre as espécies reativas produzidas e a capacidade
antioxidante, cria-se uma situação que
se denomina estresse oxidativo.
Os
radicais livres podem ser provenientes da reoxigenação
de tecidos isquêmicos, do resultado de processos
inflamatórios agudos e crônicos, da radiação
ionizante, da lesão causada por substâncias
químicas e da reação com metais.
Nos processos inflamatórios, os radicais livres
de oxigênio derivam principalmente da NADPH
oxidase dos macrófagos e neutrófilos.
Já nos tecidos isquêmicos reperfundidos,
o radical superóxido deriva principalmente
da xantina oxidase localizada no citoplasma das células
epiteliais, endoteliais e dos macrófagos.
4-
Conseqüências danosas do estresse oxidativo
As
principais conseqüências secundárias
ao estresse oxidativo em sistemas biológicos
são:
a) a lipoperoxidação da membrana
celular;
b) oxidação de proteínas;
c) lesão DNA/RNA celular.
A peroxidação dos lípides da
membrana, decorrente da ação dos radicais
livres, inicia-se com a subtração de
íons hidrogênio do grupo metileno dos
fosfolipídios, com posterior produção
de dienos conjugados, hidroperóxidos e formação
de outras espécies reativas mais deletérias
à célula, como o radical alcoxil e peroxil.
Com
a lesão na membrana, altera-se a fluidez da
membrana, aumenta sua permeabilidade, alterando as
trocas iônicas, acarretando o influxo excessivo
de cálcio, o qual ativa enzimas autolíticas
causando proteólise e morte celular.
A
oxidação de proteínas decorre
da ação dos radicais livres sobre os
grupos tióis, causando também agregação
e fragmentação de aminoácidos.
A
cisão do anel desoxyribose dos ácidos
nucleicos, pelos radicais livres, promove mutações
e inibição da síntese protéica.
Em
Gastroenterologia, o estresse oxidativo tem sido implicado
como fator importante na gênese de algumas doenças.
Em
alguns estudos se tem observado a redução
de antioxidantes endógenos (ác. ascórbico,
betacaroteno e alfa-tocoferol) no plasma e no tecido
de pacientes com Retocolite Ulcerativa inespecífica
(RCUI), Pancreatite Aguda e Neoplasia de Cólon.
Em
estudos experimentais com ratos, tem-se demonstrado
a correlação causal entre a maior produção
de radicais livres de oxigênio e maior lesão
pancreática e colônica, assim como redução
da lesão tecidual com o emprego de antioxidantes.
Nas
doenças hepáticas, o estresse oxidativo
tem sido implicado como fator inicial da lipoperoxidação
da membrana hepatocelular, ativação
de células inflamatórias com produção
de citocinas, ativação de lipócitos
com aumento na fibrogênese hepática,
na mutação do DNA nos mecanismos de
carcinogênese .
A
doença de Wilson e a Hemocromatose são
exemplos de doenças hepáticas em que
a produção de espécies reativas
secundárias à interação
com os metais cobre e ferro tem implicação
na lesão hepatocelular.
Outras
patologias hepáticas como a hepatite crônica
C, doença alcoólica, esteatohepatite,
cirrose e carcinoma hepatocelular, têm sido
reportadas como consequência da participação
do estresse oxidativo gerando peroxidação
lipídica da membrana, ativação
da fibrogênese hepática, mutação
do DNA e ativação de protooncogenes.
Em
pesquisas nossas realizadas na Disciplina de Gastroenterologia
da FMUSP (Oliveira,C.P.M.S, e colabs. 1999), demonstramos
a intensa liberação de radicais livres
em fígados mal perfundidos de ratos. Produzimos
experimentalmente prejuízo da circulação
hepática, com posterior reperfusão do
órgão, evidenciando radicais livres
por quimio luminescência.
Na
mesma série de pesquisas demonstramos a ação
protetora de antioxidantes.
O
papel dos radicais livres na gênese das doenças
continua a ser motivo de pesquisa, necessitando de
estudos adicionais, experimentais e clínicos,
para melhor responder o papel do estresse oxidativo
na fisiopatogênese das doenças gastrointestinais.
Responda
às perguntas
1)
O que entende por radical livre?
2)
Qual o conceito de estresse oxidativo?
3)
Quais as ações danosas do estresse oxidativo
no organismo humano?
4)
Os radicais livres podem originar doenças?
Comente sumariamente.
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