O tratamento das hemorróidas
baseia-se no grau de comprometimento do plexo hemorroidário e na
sintomatologia referida pelo paciente.
Como relatado em Hemorróidas-Parte I, podemos classificar as
hemorróidas em, pelo menos, três graus distintos, a depender
de fatores anatômicos que levam ao prolapso. Por outro lado, esta
classificação clássica não leva em consideração
a sintomatologia clínica apresentada pelo paciente, o que, a
nosso ver, deve sempre se sobrepor a qualquer outro fator. Assim sendo,
é de fundamental importância atentar-se sobretudo às
manifestações clínicas de cada caso para que se
tomem as medidas cabíveis.
TRATAMENTO CLÍNICO
Embora alguns autores relatem que não seja necessário o
tratamento de indíviduos ditos assintomáticos, entendemos,
pelo menos do ponto de vista preventivo, que é imperativa a mudança
de determinados hábitos dietéticos e higiênicos. Por
exemplo, caso se identifique a presença de congestão venosa
na região anal durante exame proctológico de rotina em um
indivíduo assintomático, caberá ao médico
orientar o paciente no sentido da correção de uma possível
constipação intestinal (veja item I). Além das medidas
dietéticas, deve-se indicar a lavagem da região anal com
água e sabão neutro, de preferência glicerina, após
o ato defecatório. Durante a lavagem, devem-se afastar fatores
de irritação, sejam manuais e ungueais, sejam cremes e pomadas
inapropriadas. Mesmo o papel higi&ecir c;nico pode ser irritante. Banhos
de assento com permanganato de potássio (100 mg em 4 litros de
água morna) são úteis.
O acompanhamento médico periódico é imprescindível,
verificando-se a evolução clínica das hemorróidas,
podendo-se evitar assim procedimentos cirúrgicos futuros.
Quando os sintomas são discretos, além de todas as medidas
acima, podem-se administrar pomadas ou cremes que contenham policresuleno,
corticosteróides e anestésicos. Pomadas que contenham
derivados de vitamina A e vitamina D são úteis, porém
dificultam a limpeza local devido a grande adesividade que possuem.
As mesmas substâncias acima administradas sob a forma de supositórios,
apresentam, em muitas situações, melhor resultado, uma
vez que o contato das drogas com a mucosa retal e canal anal é
mais prolongado e completo. Nas crises dolorosas agudas, no entanto,
o uso de supositório nem sempre é possível pela
dor provocada durante o introdução através do canal
anal.
Este tratamento deve ser prescrito durante pelo menos 1 mês
até o retorno ambulatorial do paciente, enfatizando-se a mudança
de hábitos como vimos anteriormente.
Em situações outras como a gravidez, em que naturalmente
ocorre aumento da incidência de hemorróidas, o tratamento
deve sempre ser clínico, mesmo no caso da ocorrência de
tromboses externas. Assim sendo, o obstetra tem um papel fundamental
na orientação da gestante durante o período pré-natal
com relação aos hábitos dietéticos e higiênicos.
PROCEDIMENTOS NÃO-CIRÚRGICOS
Os procedimentos tipo esclerose com solução de fenol a 5%,
ligadura elástica, criocirurgia, coagulação por raios
infravermelhos e ação por raios laser no tratamento das
hemorróidas ao lado do tratamento clínico são de
muita utilidade, pois evitam a hemorroidectomia radical em um grande número
de casos. Existem atualmente várias modalidades terapêuticas
que podem ser realizadas a nível ambulatorial, sem necessidade
de internação.
O uso de um ou outro procedimento dependerá da não-resposta
ao tratamento clínico, da intensidade sintomatológica
referida pelo paciente, do grau de prolapso e, sobretudo, da experiência
do médico com relação à técnica individual
de cada procedimento.
Segue abaixo tabela descritiva dos procedimentos não-cirúrgicos:
PROCEDIMENTO |
HISTÓRICO |
INDICAÇÃO |
RESULTADOS |
ESCLEROSE
COM SOLUÇÃO DE FENOL A 5% |
Referências
desde o início da década de 1930. |
Hemorróidas
sintomáticas Graus I e II |
Rápido
e eficaz. Recidiva pode ocorrer |
LIGADURA
ELÁSTICA |
Referências
desde o final da década de 1950. |
Hemorróidas
sintomáticas Graus I e II. Alguns casos de hemorróidas
grau III. |
Satisfatórios.
Deve ser evitada em pacientes imunodeprimidos devido a uma possível
sepsis. |
CRIOCIRURGIA |
Referências
desde o final da década de 1970. |
Hemorróidas
Graus I, II e III. |
Bons.
Incoveniente: aumento de plicomas residuais. |
COAGULAÇÃO
POR RAIOS INFRAVERMELHOS |
Desde
o final da década de 1980. |
Hemorróidas
Graus I e II. |
Semelhantes
a esclerose e ligadura elástica a longo prazo. |
RAIOS
LASER |
Década
de 1990. |
Hemorróidas
Graus I, II e III. |
Encorajadores. |
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
O tratamento cirúrgico consiste na hemorroidectomia e está
indicado somente se houver falha das medidas clínicas e de, pelo
menos, um procedimento não-cirúrgico. A indicação
da cirurgia reserva-se aos estádios avançados da doença.
Como complicações cirúrgicas podem ocorrer estenose
cicatricial e incontinência fecal.