DOENÇA
PÉPTICO-ULCEROSA E SUAS VARIANTES
Dra.
Claudia P. M. S de Oliveira
Prof. A. A. Laudanna
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Fig.1 - Imagem do Helicobacter pylori em cultura
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No
presente artigo, queremos enfatizar as variantes da
moléstia péptico-ulcerosa em relação
a suas etiologias mais comuns.
Salientamos:
- Úlceras
relacionadas à presença do Helicobacter
pylori.
- Úlceras
devidas à ingestão de antiinflamatórios
não hormonais (AINES).
- Úlceras
secundárias à tumores neuro-endócrinos
(Gastrinoma ou síndrome de Zollinger- Ellison).
- Úlceras
recidivantes em estômago operado.
- Helicobacter
pylori - O papel do Helicobacter pylori na gênese
das úlceras pépticas já se
encontra bem assentado. Também tem sido demonstrada
uma associação estreita entre o linfoma
do tipo MALT e o adenocarcinoma gástrico
com o Helicobacter pylori.
Esta
bactéria gram negativa, flagelada, espiralada,
microaerófila, descrita por Warren e Marshall
em 1983, tem a capacidade de aderir à mucosa
gástrica desencadeando o processo inflamatório
que resulta em úlceras e gastrites.
O
Helicobacter pylori exerce sua patogenicidade
por diversos mecanismos:
-
produção da citotoxina vacuolizante
(Vac.A).
- produção
de urease, a qual hidrolisa a uréia em amônia.
- ativação
de agentes pró-inflamação tipo:
Interleucina 8 (IL-8), fator de antiagregação
plaquetária (FAP) e fosfolipases.
- exacerbando
a produção de gastrina, sem o adequado
feed-back da somatostatina.*
- outros
mecanismos não menos importantes: virulência
da cepa infectante, suscetibilidade do hospedeiro
e fatores ambientais.
Tratamento:
Faz-se sempre com um inibidor de bomba protônica
(ex: omeprazol) e, pelo menos, mais dois antimicrobianos.
(Veja o artigo 2 da segunda revista desta publicação
WEB).
* Reporte-se para a revista número
1 artigo 2 desta publicação
-
Antiinflamatórios não hormonais (AINES)
- Os mecanismos pelos quais eles induzem a formação
de úlceras ainda não está totalmente
elucidado. Acredita-se que o efeito lesivo seria
devido a dois mecanismos:
-
efeito tóxico (do AINES) direto sobre a mucosa,
acarretando aumento da permeabilidade celular, inibição
da fosforilação oxidativa e inibição
do transporte iônico.
-
o AINES agiria sistemicamente, inibindo a síntese
de prostaglandinas, afetando assim a produção
de muco, de bicarbonato e o "turn over" celular,
todos esses fatores dependentes das prostaglandinas.
A
produção das prostaglandinas é
afetada pela inibição da
enzima cicloxigenase pelo AINES. Estudos recentes
identificaram dois tipos de cicloxigenase (COX):
COX-1 e COX-2.
A
COX-1 promove a produção de prostaciclina,
responsável pela citoproteção
da mucosa gástrica.
A
COX-2 é encontrada preferencialmente no
local da inflamação.
Desta
forma, atualmente, existe a possibilidade de se
utilizar ant-inflamatórios que inibam somente
a COX-2, poupando significantemente a mucosa gástrica.
Tratamento:
Consiste primeiramente em afastar o agente,
se possível. Usar análogos sintéticos
das prostaglandinas como o misoprostol, que
tem como contra-indicação eletiva
o fato de ser abortivo. A dose recomendada para
promover a proteção gástrica
é de 1 grama ao dia dividido em quatro doses
de 200 mg.
Pode-se usar o sucralfate que tem como mecanismo
de ação sua forte aderência à
mucosa gástrica, aumentando assim a defesa
natural da barreira mucosa.
Os bloqueadores H2 têm sido
utilizados em substituição ao misoprostol,
com bons resultados.
- Tumores
neuro-endócrinos ou gastrinomas - Os
tumores neuro-endócrinos, produtores de gastrina,
devem ser lembrados no diagnóstico diferencial
da doença ulcerosa péptica, do tipo
poli-ulcerosa, mesmo após a negativação
do Helicobacter pylori, resistente ao tratamento
clínico, reincidente, com gastrinemia acima
de 200 pg/ml.
Em
1955, Zollinger e Ellison descreveram a hipercloridria
decorrente da produção tumoral de
gastrina, donde o nome gastrinoma.
Com
freqüência estes tumores estão associados
à "Neoplasias Endócrina Múltipla"
Tipo I, onde se associam tumores da tireóide,
da paratiróide aos gastrinomas.
(Gastroenterologia Clínica A.A. Laudanna
pág. 139).
A síndrome de Zollinger Ellison ou Gastrinoma
é entidade clínica causada por tumor
Neuro-Endócrino, produtor de gastrina,
geralmente localizado no nível pancreático
ou cercanias numa região conhecida como
triângulo dos gastrinomas e que é delimitado
pela confluência do cístico e do colédoco
superiormente, junção da segunda
e terceira porções do duodeno superiormente
e junção da cabeça e colo
do pâncreas medianamente.
No
início da década, com o lançamento
dos inibidores da bomba protônica, questionou-se
que estas drogas pudessem causar tumores neuro-endócrinos
como o gastrinoma, suspeitados em alguns trabalhos
experimentais. Longos estudos em humanos há
mais de 10 anos afastam praticamente essa hipótese.
Os bloqueadores de bomba protônica são
considerados drogas seguras quanto a esse aspecto.
Tratamento:
Erradicar o tumor sempre que possível.
Na impossibilidade de o fazer, utilizar doses
elevadas de bloqueadores de bomba protônica como
o omeprazol na dose de 80 a 120mg/dia, ou far-se-á
o tratamento cirúrgico combinado ao tratamento
clínico.
- Úlcera
péptica recidivante em estômago operado
- Merecem ponderação especial os gastrectomizados
em quem recidivam as úlceras. As causas mais
freqüentes são:
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