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Jornal de Gastroenterologia - BOCA
BOCA
III - HALITOSE
A halitose é assunto
importante para o gastroenterologista.
É freqüente que o paciente procure o gastroenterologista por mau
hálito, declarando a queixa ao médico ou, por vergonha até
do médico, ocultando-a por trás de outras apresentações,
tais como: "sofro do fígado", "tenho gastrite", "tenho mau gosto
na boca", "tenho colite" e assim por diante.
Outras vezes chega mais esclarecido e determinado:
"Tenho mau hálito".
Comumente, moços e moças, gente jovem, como é
natural, consideram-se diante de um problema que acreditam ser insolúvel
para a medicina. São pessoas atormentadas, torturadas, escravas
do chiclete e marginalizadas da vida social e da vida afetiva.
Renovam-se, renascem, se o médico diz, e pode dizê-lo:
"Não é assim como o senhor(a) pensa".
A halitose tem causa que deve ser reconhecida e tratada. De regra,
tratada a causa, desaparece a halitose.
Se nos moços a queixa é mais freqüente, na verdade essa
condição mórbida existe em todas as idades.
Como deve o médico encarar o caso?
Como qualquer queixa clínica onde se buscam as causas.
Fará exame geral, boa história clínica e exame
físico completo; como se faz em exame médico bem feito,
atentando para tudo e também para o psiquismo do paciente.
De fato, as causas da halitose podem estar localizadas na boca, nas
suas proximidades, ou podem estar à distância.
Façamos uma classificação das causas, sem nos
preocuparmos rigidamente com a classificação, pois todas
elas apresentam falhas.
CAUSAS DA HALITOSE
1. Causas situadas na boca
- dentes; próteses e gengivas
- língua e mucosa oral
- amigdalites e faringites
2. Causas situadas nas proximidades da boca e que se exalam por ela
- rinites
- rinofaringites e amigdalites
- sinusites
- hábitos alimentares e fumo
- patologias broncopulmonares
- patologias esôfago-gástricas
3. Causas sistêmicas - hálitos especiais
- hálito hepático
- hálito cetônico
- hálito urêmico
- transtornos ansiosos e depressões
COMENTÁRIOS GERAIS E TRATAMENTO
1. Causas situadas na boca
Habitualmente será necessária a colaboração
decisiva do dentista.
É importante saber que:
- existem espaços (microespaços) entre gengiva e próteses,
quer isoladas ou em bloco, os quais são a sede da digestão
salivar, proliferação bacteriana, despreendimento de
gases e mau odor.
- nas gengivas, em tais microespaços, existem bactérias,
inclusive do tipo anaeróbias. A passagem da fita dental (melhor
que o fio dental) e a possibilidade do uso dessa fita são de
vital importância no tratamento.
- as pontes fixas costumam ser um desastre! A atuação
do médico e a ação do dentista, solucionam o
problema.
- as gengivites, estomatites, língua saburrosa e língua
geográfica devem ser avaliadas corretamente. Não se
deve escovar a língua. As amigdalites e faringites serão
devidamente tratadas.
2. Causas situadas nas proximidades da boca e que se exalam por ela
Rinites, rinofaringites e amigdalites, agudas ou crônicas, alérgicas,
infecciosas ou mistas, são tratadas, de regra, em colaboração
com otorrinolaringologista e eventualmente com o alergista.
É importante saber que:
- o uso permanente de vasoconstrictores aplicados à mucosa
nasal causam irritação por si mesmos e mantêm
rinite incurável.
- as misturas de antibióticos com corticóides (de preferência
de baixa absorção), misturas essas em solução
salina, quando usadas temporariamente, sob supervisão médica,
são de grande proveito.
- o paciente que fala anasalado, ou com o desvio do septo nasal é
diagnosticado no primeiro contato.
- a pessoa deve perceber o interesse do médico pelo seu caso,
interesse, investigação e meditação, não
devendo o médico considerar a queixa como banal, pois, para
o paciente é por demais importante.
- bronquites crônicas, broquiectasias e doenças bronco-
pulmonares podem influir no hálito.
- causas esôfago-gástricas, excluídas ou incluídas
entre as outras, devem ser consideradas.
- o tabagismo, sempre inconveniente, sobretudo se intenso, interfere
negativamente no hálito. É curioso que muitos pacientes
erroneamente até fumem mais, pensando que desse modo disfarçam
a halitose.
- o uso de alho e cebola deve ser levado em conta pelo médico
e pelo paciente no contexto das causas, avaliando o exagero do uso.
Estes aspectos alimentares alargam-se para outros alimentos, devendo
estar o médico atento, não induzindo idéias inexistentes
e não descurando das causas alimentares eventualmente presentes.
3. Causas sistêmicas, hálitos especiais
Lembrando:
- o hálito cetônico que aponta a cetose diabética
e sua gravidade, não sendo propriamente um mau hálito;
é comparado ao odor de frutas e maçã.
- o hálito hepático que só a prática
ensina a reconhecer: é mau hálito, denunciando grave
insuficiência hepática.
- o hálito urêmico, comparado ao odor da própria
urina, que aponta uremia grave.
- transtornos ansiosos e depressões podem ser a causa de queixa
de halitose.
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