TRATAMENTO
DA HEPATITE CRÔNICA PELO VÍRUS C
Dr. José Eymard Moraes de Medeiros Filho
Pós-Graduando da Disciplina de Gastroenterologia Clínica
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Muito
se modificou nesta década de tratamento do VHC, desde o início
da monoterapia com IFN para a anteriormente denominada hepatite não
A-não B, até o advento de novos fármacos, como
a ribavirina e os Interferons de Consenso (C-IFN) e Peguilados (PEG-IFN),
além de novas perspectivas como associação de HDC
(histamina dihidrocloreto) e amantadina.
Entretanto, ainda
persiste controverso o papel da amantadina, bem como ainda está
em investigação a associação de outros fármacos
que não os interferons e a ribavirina.
Estudos
de cinética viral realizados nos últimos anos têm
demonstrado a existência de diferentes padrões de resposta
virológica após a introdução do tratamento
com IFN com ou sem ribavirina, caracterizados pela queda da carga viral
em níveis variáveis, seguida de sua estabilização
ou decaimento persistente até a negativação. O
mesmo se observa durante a suspensão do tratamento e a recaída
viral, que na maior parte das vezes se dá precocemente após
a interrupção do tratamento, levando a recaída
virológica. Deste modo, observa-se na fase inicial do tratamento
os seguintes padrões de resposta virológica:
- Non-responder,
caracterizado pela ausência de queda da viremia após
início do tratamento, demonstrando a resistência à
terapia antiviral e antecipando a falha do tratamento utilizado;
- Rebounder,
em que após uma pequena queda da viremia nas primeiras 24 -
48 horas segue-se um retorno da viremia a níveis próximos
ao observado na fase pré-tratamento, também demonstrando
resistência à terapia utilizada e falha ao tratamento;
- Flat Partial
Responder,
em que, após queda de 1 a 2 log UI/ml da viremia nas primeiras
24 a 48 horas iniciais do tratamento, inicia-se uma fase sem redução
progressiva da viremia, que não sofre negativação;
- Slow Responder,
em que à expressiva redução inicial da carga
viral segue-se uma curva de inclinação pouco acentuada,
mas com redução progressiva da carga viral, não
se atingindo a negativação da viremia até o fim
do período de tratamento habitualmente utilizado; e
- Rapid Viral
Responder,
em que à expressiva queda inicial da viremia segue-se uma redução
progressiva, com inclinação acelerada da curva de decaimento
viral, levando à negativação da viremia durante
o tratamento muitas vezes antes do terceiro mês, permitindo
atingir o final do tratamento com viremia negativa, caracterizando
a resposta virológica ao final do tratamento.
Nos
pacientes com resposta virológica ao final do tratamento, após
sua suspensão pode-se observar retorno da carga viral (Relapsers)
ou persistência de viremia negativa (Sustained Response).
O tratamento
está indicado em pacientes com lesão necro-inflamatória
com estadiamento maior ou igual a 2, evidenciado através da atividade
peri-portal e lesão de interface. É ainda discutível
a indicação de tratamento de pacientes com ALT persistentemente
normais, admitindo-se porém o seu tratamento quando se evidencie
lesão inflamatória e/ou fibrose significativa.
Após
a associação da ribavirina,um análogo nucleosídico
ao alfa 2 -IFN, a taxa de resposta sustentada praticamente dobrou, passando
dos 15% a 20% iniciais para cifras em torno de 35 a 40%, a depender
da proporção de cirróticos e da viremia dos grupos
analisados (FIGURA 1).
Até
há 2 anos o tratamento mais eficaz disponível, a associação
de IFN convencional à ribavirina consistia no tratamento de escolha
para a infecção crônica pelo VHC. Conforme o genótipo
em questão, o Consenso Europeu de 1999 (Paris) preconizava o
tratamento com duração de seis meses para os genótipos
2 e 3 e de 12 meses para os pacientes com genótipo 1 que apresentassem
negativação virológica ao sexto mês de tratamento
com IFN (3 MU SC 3 vezes por semana) e ribavirina (1 a 1,2 g ao dia,
em duas tomadas). Os pacientes com genótipo 1 que não
apresentavam negativação virológica com seis meses
eram considerados não-respondedores, e deveriam ter o tratamento
suspenso por apresentarem baixa probabilidade de resposta. Com este
tratamento acima referido, observa-se para o genótipo 1 resposta
ao tratamento por 12 meses em torno de 30%, e para os genótipos
2 e 3, 60 % para terapia com seis ou 12 meses.
Nestes
últimos doze meses, entretanto, o advento dos PEG-IFN's veio
tornar a sua associação à ribavirina a terapia
de escolha para o VHC. Aliando maiores taxas de resposta virológica
à comodidade de administração semanal, obtêm-se
taxas de resposta sustentada superiores a 50% para o genótipo
1, em alguns estudos até mesmo independente da porcentagem de
indivíduos com cirrose aí incluídos. Entretanto,
para os genótipos 2 e 3, a utilização de PEG-IFN
não se traduz em melhor taxa de resposta, sendo a sua indicação
sob este prisma discutível. O tempo de tratamento é variável
conforme o genótipo (12 meses para o genótipo 1, 6 meses
para os genótipos 2 e 3). Além disso, pacientes que apresentem
viremia positiva por PCR qualitativo na 12a. semana não apresentaram
resposta sustentada em praticamente 100% dos casos, sendo esta situação
indicadora de descontinuidade da terapia de PEG-IFN e ribavirina.
À
parte questões de caráter comercial, ainda não
se é possível avaliar diferenças de resultados
entre os dois tipos de PEG-IFN disponíveis, os de peso molecular
de 12 ou 40 kD. Estudos randomizados independentes comparando ambas
as drogas são necessários para avaliar a eficácia
e possíveis diferenças entre essas duas novas armas disponíveis
para o tratamento desta epidemia silenciosa.
FIGURA
1 - RESPOSTA AO TRATAMENTO DO VHC
ANO
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