MÉTODOS DIAGNÓSTICOS DA INFECÇÃO PELO
HELICOBACTER PYLORI
Dra. Rejane Mattar
Médica Pesquisadora da Disciplina
de Gastroenterologia da FMUSP
Para o diagnóstico de infecção pelo H. pylori
há métodos invasivos: histologia com coloração
pela Hematoxilina - Eosina (HE) e Giemsa, teste rápido da urease
CLO e cultura a partir de biópsia gástrica. Os métodos
não invasivos foram, posteriormente, introduzidos na prática
clínica: sorologia por enzima imunoensaio com pesquisa de IgG
anti-H. pylori, teste rápido da ponta de dedo que pesquisa anticorpo
anti-H. pylori e teste respiratório com 14C-uréia e 13C-uréia.
Na histologia, o H. pylori é visto aderido à célula
epitelial, ou escondido sob o muco do estômago na coloração
pelo HE, sendo melhor visualizado nos cortes corados pelo Giemsa.
O teste
rápido da urease CLO caseiro preparado no nosso laboratório consiste
de tampão fosfato com uréia, extrato de levedura e vermelho fenol pH
6,9. O vermelho fenol fica amarelo no pH ácido e rosa carmim no pH alcalino.
A solução é esterilizada em membrana millipore, aliquotada e congelada.
Se a biópsia gástrica tem H. pylori, com a produção da urease
a uréia é metabolizada em bicarbonato e amônia, o meio passa de ácido
para alcalino, ocorrendo viragem da cor de amarelo para cor-de-rosa.
A leitura é realizada em até 24h.
A cultura
a partir de biópsia gástrica é demorada. A mucosa
gástrica precisa ser macerada antes da semeadura para aumentar
o crescimento das colônias, em vez de simplesmente passar-se a
biópsia pela superfície da placa, evitando os falsos negativos.
A cultura com antibiograma não é essencial para o diagnóstico
de infecção pelo H. pylori, entre os outros exames
disponíveis, e ficaria restrita aos casos de falha na resposta
ao tratamento.
No
mercado há diversos kits comerciais para a detecção
de IgG anti-H. pylori por enzima imunoensaio. Esses ensaios se baseiam
em antígenos e urease de cepas de H. pylori adsorvidos
a pérolas ou microplacas. A IgG anti-H. pylori presente na amostra
de soro do paciente se liga aos antígenos da pérola ou
da microplaca. Depois da lavagem, o complexo antígeno-anticorpo
é detectado com conjugado de carneiro anti-IgG humana marcado
com peroxidase e substrato. Uma cor azul se desenvolve, sendo que a
intensidade da cor é proporcional à quantidade de IgG
específica ao H. pylori. A leitura da cor é feita
em comprimento de onda específico para cada fornecedor.
A sorologia
para H. pylori é o método de escolha nos estudos
epidemiológicos. O exame indica se o paciente já entrou
em contato com a bactéria ou não. Caso o paciente tenha
feito tratamento para erradicar a bactéria, o teste sorológico
pode ficar positivo ainda por vários meses, não sendo
muito apropriado para avaliar resposta ao tratamento. As determinações
seriadas antes do tratamento e a cada 3 meses sugerem erradicação
da bactéria, desde que haja queda na concentração
do anticorpo. Outra limitação depende de o paciente mostrar
resposta imune ao Helicobacter pylori.
O melhor
método não invasivo é o teste respiratório
com 14C-uréia ou 13C-uréia. O paciente
deve tomar alguns cuidados caso tenha usado antibiótico, aguardando
pelo menos um mês para fazer o exame. Os inibidores da secreção
ácida devem ser suspensos uma semana antes, evitando os falsos
negativos. O teste com 14C-uréia não é
realizado em crianças, mulheres grávidas e amamentando
por ser radioativo; nesses casos a opção é a 13C-uréia.
O exame se baseia na ingestão de 14C-uréia;
se o paciente tem H. pylori no estômago, a urease metaboliza
a uréia em amônia e bicarbonato. O bicarbonato entra na
corrente sangüínea e é expirado pelos pulmões
sob forma de 14CO2.
No
nosso departamento foi implantado o teste com 14C-uréia
em 1997. O paciente ingere 5 uCi em jejum e permanece sentado durante
todo o tempo do exame. Após 20 minutos o paciente sopra num sistema
que contém 1 mmol de hidróxido de benzetônio em
metanol com timolftaleína. A timolftaleína é indicador
de pH: em pH alcalino é azul, em pH ácido é incolor.
O hidróxido de benzetônio é alcalino, sendo originalmente
azul na presença da timolftaleína. Depois que o paciente
sopra e 1 mmol de CO2 fica retido no meio, a cor vira de
azul para incolor. São acrescentados 10 mL de líquido
de cintilação e a leitura é realizada em contador
c. As instituições de pesquisa
geralmente dispõem de contador b,
sendo mais barato implantar essa técnica. No nosso estudo, o
valor de corte foi 562 cpm. Na prática diária, nós
consideramos leituras entre 562 e 1000 cpm duvidosas. Acima de 1000
cpm, o teste é positivo.
O teste
respiratório com 13C-uréia exige a aquisição
de equipamento próprio para leitura, sendo referido como menos
sensível do que a técnica com 14C-uréia,
mas tem a grande vantagem de não ser radioativo. Ambos são
de igual valor diagnóstico.
Por
intermédio da sorologia também pode-se pesquisar IgG anti-vacA
e IgG anti-cagA, determinando o status da cepa para o cagA e se é
secretora de citotoxina vacA. Os kits empregados tanto podem ser de
enzima imunoensaio quanto de Western Blotting. O resultado do teste,
entretanto, depende de o paciente ser imunologicamente responsivo aos
antígenos vacA e cagA.
No
nosso departamento, a técnica empregada para a genotipagem da
cepa consiste na extração de DNA a partir de biópsia
gástrica de CLO positivo. A seqüência sinal (s) e
a do meio (m) da citotoxina vacA e o gene cagA são amplificados
por PCR (reação de polimerização em cadeia)
com oligonucleotídeos específicos para s1a, s1b, s2, m1,
m2 e cagA. A endoscopia digestiva alta é necessária para
realizar-se a genotipagem que nos revela os gens já descritos
no genoma do H. pylori. A sorologia isoladamente só permitirá
identificar cagA e vacA.
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