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Revista de Gastroenterologia da Fugesp - INFLUÊNCIA DA PRESSÃO ABDOMINAL
Jan/Fev-2002

COMPORTAMENTO DO ESFÍNCTER INFERIOR DO ESÔFAGO EM PACIENTES PORTADORES DE ASCITE

Antonio A. Laudanna


Esse assunto é de grande importância, pois os pacientes portadores de ascite, em sua maioria, são hepatopatas crônicos, com varizes de esôfago. A exposição das varizes ao refluxo gastroesofágico seguramente pode favorecer sangramentos. Esse assunto foi estudado em nosso grupo de trabalho por Tomás Navarro Rodrigues, que estudou 16 pacientes. Rodrigues T. N. mediu a pressão do esfíncter inferior do esôfago e os episódios de refluxo através de pHmetria de 24 horas. Transcrevo, a seguir, o sumário de seu trabalho.

"O objetivo deste estudo prospectivo foi avaliar a influência da pressão intra- abdominal sobre a pressão do esfíncter inferior do esôfago e a pHmetria intra- esofágica de 24 horas em pacientes com ascite antes e após paracentese. Foram avaliados 16 pacientes que apresentavam indicação de paracentese esvaziadora. O sintoma mais comum referido foi eructação (11 casos - 68,75%); pirose foi referida por apenas dois pacientes (12,5%). Ao exame de endoscopia digestiva alta, 13 pacientes apresentaram varizes de esôfago e um apresentou esofagite. O peso e a circunferência abdominal reduziram-se significativamente antes e após a paracentese (p = 0,0004*, em ambas as avaliações). A quantidade de líquido ascítico retirado foi, em média, de 11.097ml. A determinação da pressão intra-abdominal foi realizada por meio de dispositivo ("cachimbo") que permitia a leitura em milímetros de mercúrio, sendo medida antes e imediatamente após a paracentese esvaziadora. Ocorreu redução significativa (p=0,0004*) na pressão intra-abdominal antes (15,18 ±,83 mmHg) e após a paracentese (3,31 ± 3,13 mmHg). Não foi observada correlação entre a redução de peso/circunferência abdominal e a redução na pressão intra-abdominal. Os resultados foram divididos em dois lotes distintos: grupo A, em que a redução da pressão intra-abdominal foi maior que 70%, e grupo B, quando menor que 70%. A pressão do esfíncter inferior do esôfago, mensurada através da manometria esofágica, não se alterou significativamente (p = 0,3794) com a redução da pressão intra-abdominal (antes 17,48 ± 8,62 mmHg; após 18,67 ± 5,94 mmHg). Quando analisados os dois grupos antes (A = 15,60 ± 6,00 mmHg e B = 23,09 ± 13,53 mmHg) e após (A= 18,04 ± 5,13 mmHg e B = 20,40 ± 8,50 mmHg) também não houve diferença estatística (p= 0,1823 e p = 0,4652, respectivamente) nas medidas de pressão do esfíncter inferior do esôfago. A determinação da pHmetria intra-esofágica de 24 horas evidenciou que, em sete parâmetros, dentre os oito analisados, não houve diferença estatística antes e após a paracentese. O único parâmetro em que ocorreu diferença estatística (p = 0,0480*) foi o número total de episódios de refluxo, tendo sido significativamente maior no período que antecedeu a paracentese (520,26 ± 1035,79) que após a mesma (136,26 ± 169,49). Comparando-se os grupos A e B verificou-se que todos os parâmetros de pHmetria foram diferentes estatisticamente no grupo A nos períodos pré e pós redução da pressão intra-abdominal (p< 0,05). No grupo B a paracentese não condicionou diferenças significativas na pHmetria (p > 0,05). Concluiu-se que os pacientes com ascite apresentaram importante refluxo gastroesofágico ao exame de pHmetria intra-esofágica de 24 horas, embora a pressão do esfíncter inferior do esôfago à manometria esofágica apresentasse valores normais. Com a redução da pressão intra-abdominal não houve diferença na pressão do esfíncter inferior do esôfago, tendo ocorrido somente tendência estatística à diferença ao exame de pHmetria de 24 horas. Quando se considerou a redução da pressão intra-abdominal maior que 70% do valor inicial, foi caracterizada uma redução significativa do refluxo gastroesofágico sem alteração na pressão do esfíncter inferior do esôfago."

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