PAPEL
DA ECOENDOSCOPIA NA PANCREATITE CRÔNICA
A ecoendoscopia
(EE), também conhecida como endo-sonografia ou ultra-sonografia endoscópica,
foi introduzida em nosso meio no início da década de 90. Através do
acoplamento de pequena sonda na extremidade distal do endoscópio, possibilita
o estudo sonográfico da parede do tubo digestório e estruturas vizinhas
sob freqüências usualmente superiores àquelas empregadas na ecografia
convencional.
Desde
sua introdução, logo se percebeu a alta acurácia do método na avaliação
da glândula pancreática. De fato, mesmo com o advento da ressonância
magnética e da tomografia helicoidal, a ecoendoscopia ainda é o método
mais acurado para o estudo do parênquima pancreático.
Em
relação à pancreatite crônica, já está estabelecido que a EE apresenta
a mesma acurácia da pancreatografia endoscópica retrógrada e de testes
funcionais no diagnóstico da pancreatite crônica e de suas complicações.
Destas, destacam-se a presença de cálculos nas vias pancreáticas, de
estenose biliar, de distrofia cística da parede duodenal e do pseudocisto.
Assim, a exemplo do que ocorre na situação de icterícia obstrutiva extra-hepática,
em que a EE pode substituir, do ponto de vista diagnóstico, a
colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, o mesmo pode ser dito
a respeito do diagnóstico da pancreatite crônica e de suas complicações.
Uma
vez que, através da EE, é possível o exame do sistema canalicular e
do parênquima pancreáticos, postulou-se a possibilidade de se realizar
o diagnóstico da pancreatite crônica em suas formas iniciais. De fato,
quando se compara a EE com a CPER ou com estudos funcionais, há um subgrupo
de indivíduos que apresentam CPER normal, secreção de bicarbonato normal
e EE anormal. Em geral, trata-se de pacientes com história de
abuso alcoólico, assintomáticos ou oligossintomáticos; isto é, portadores
de dispepsia. Há duas maneiras de interpretar estes achados. A primeira
reflete um grupo de pacientes portadores de pancreatite crônica inicial,
oligo-sintomática, que irá evoluir com a forma clínica da doença dentro
de alguns anos. A segunda, que a EE está "super diagnosticando" pancreatite
crônica e, na verdade, trata-se de pacientes que jamais irão desenvolver
a doença. Provavelmente, as duas interpretações devem ocorrer em diferentes
pacientes. A falta de exame padrão-ouro para o diagnóstico da pancreatite
crônica impede a resolução deste dilema. Apenas o acompanhamento a longo
prazo destes pacientes poderá responder às indagações acima. Logicamente,
a punção ecoguiada do pâncreas com agulha fina não oferece material
suficiente para esta tarefa, além de ser teste invasivo.
Ainda
na pancreatite crônica, a EE pode ser utilizada com fins terapêuticos
em duas situações: na drenagem de pseudocistos para o tubo digestório
e na paliação da dor através da injeção de anestésicos no plexo celíaco.
A
drenagem endoscópica de pseudocisto é procedimento realizado há alguns
anos. A EE trouxe segurança à operação, uma vez que a punção da lesão
é feita em tempo real, escolhendo-se o melhor sítio e evitando-se estruturas
vasculares. Além disto, tornou-se possível a drenagem de coleções acoladas
ao estômago e duodeno, mas que não provocam abaulamento óbvio da parede
desses órgãos.
A injeção de substâncias
anestésicas no plexo celíaco derivou da neurólise do plexo celíaco com
álcool em pacientes portadores de câncer de pâncreas, em fase terminal,
com dor crônica. Logicamente, não haveria lógica em se injetar álcool
em pacientes portadores de pancreatite crônica, com dor incapacitante.
Assim, realizou-se a injeção de bupivacaína, no plexo celíaco, facilmente
identificável à EE. Os resultados iniciais foram ruins. Menos de 30%
dos pacientes se beneficiaram da aplicação.
Em resumo, o papel
da EE na pancreatite crônica pode ser sintetizado em 1, 2, 3:
- Diagnóstico
da pancreatite crônica, com repercussão ductal ou funcional (Fig.
1) => indicação estabelecida.
- Diagnóstico das
complicações da pancreatite crônica: estenose biliar, estenose duodenal,
cálculos pancreáticos, pseudocistos => indicação estabelecida.
- Punção e drenagem
de pseudocisto pancreático => indicação estabelecida.
- Diagnóstico
da forma precoce da pancreatite crônica => indicação em
investigação.
- Injeção de anestésicos
na pancreatite crônica => indicação em investigação.
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Fig.
1 - Imagem de ecoendoscopia radial do corpo pancreático, revelando
ducto de Wirsung de 5mm, com reforço hiperecóico de sua parede,
em paciente com pancreatite crônica alcoólica. |
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